Jayalalithaa – A mãe de todos

Como prometido no post anterior, hoje contaremos um pouco sobre a trajetória desta grande atriz do cinema indiano que entrou para a política e tornou-se um ícone no estado de Tamil Nadu, no sul da Índia.

Jayalalithaa nasceu em 1948, no estado de Karnataka, no sul da Índia, com o nome de Komalavalli. Apesar de nascida em Karnataka, pertencia a uma família Tamilian Brahmin Iyengar. Não vou entrar na parte de explicação sobre as castas, mas no sul da Índia, sobretudo, os Brahmin ainda tem uma posição bastante de destaque na sociedade e, mesmo existindo várias subcastas dentro dos Brahmins, os Iyengar, hoje, são mal vistos, pois por séculos, oprimiram as castas mais baixas. Mas ainda assim, eles carregam um grande orgulho e empáfia por fazerem parte desta casta considerada tão “pura”. Esta foi uma simplória explicação apenas para situá-los em relação a casta de Jayalalithaa e sua família.

O nome Jayalalithaa foi criado quando ela tinha um ano, para que fosse usado quando começasse a ir à escola e teve origem em duas das vilas onde sua família residiu: A Jaya Villa e a Lalithaa Vila. Jayalalithaa sempre foi uma excelente aluna, ganhando até uma bolsa de estudos do governo, chegando a ingressar no Stella Maris College, em Chennai. A esta altura, Jaya já morava em Chennai, capital do estado de Tamil Nadu e, devido a insistência da mãe para que se tornasse atriz de cinema, Jaya acabou largando os estudos. Porém, isso não impediu que ela fosse uma leitora assídua. Dizem que Jaya possuía uma coleção de milhares de livros e que já tinha lido quase todos eles. Além disso, Jaya também era fluente em diversas línguas, como tamil, kannada, malayalam, telugu, hindi e inglês.

Jaya quando criança

Como vocês já imaginam, Jayalalithaa acabou ingressando no mundo do cinema e logo fez par com uma das maiores lendas da telona da época: MGR. MGR é a abreviação de Maruthur Gopala Ramachandran. A química dos dois nas telas deixava o público louco e, esta química acabou passando da tela do cinema para a vida real. MGR e Jayalalithaa começaram um romance, como toda a Índia sabe, mas o romance acabou encontrando um grande obstáculo: o próprio MGR, que era casado e nunca havia contado para Jaya. Ainda assim, após idas e vindas, o romance continuou e para Jaya, MGR sempre foi mais que um amante. Ele o tinha como uma espécie de semideus, talvez por já ser uma lenda viva quando se conheceram ou talvez, pela grande diferença de idade entre ambos.

MGR, acaba abandonando as telas do cinema e entrando para a política, fato que o fez realmente próximo de uma divindade para os indianos. Anos depois, os dois se reencontram e Jaya acaba aceitando o convite de MGR para entrar para a política. Ela era seu braço direito e enfrentou muito preconceito por ser mulher em um gabinete puramente masculino.

The life and times of J Jayalalithaa

Porém, ela estava obstinada em cumprir todos os propósitos impostos a ela e assim o fez. Infelizmente, MGR, já com idade avançada, acaba falecendo e Jaya, se vê sem o seu grande amor e mentor. O partido de MGR, o AIADMK (All India Anna Dravida Munnetra Kazhagam), chutou Jayalalithaa de cena e decidiu que a esposa de MGR deveria substituí-lo na política. V. N. Janaki, sua esposa, também uma ex-atriz e sua terceira esposa (as duas primeiras faleceram devido a problemas de saúde), acabou assumindo o papel de governadora do estado de Tamil Nadu, mas governou apenas por 24 dias. Em 1989, Jaya sofre um ataque por parte de seus opositores durante uma assembléia e sai de lá com o saree todo rasgado, como Drapaudi em Mahabharata. Aliás, é exatamente com esta cena que o filme começa. Neste dia, ela jurou que só entraria ali novamente como governadora. Anos depois, Jayalalithaa volta à cena e finalmente torna-se a governadora de Tamil Nadu, governando por seis mandatos e sendo amada pelo povo, recebendo o apelido de Amma (mãe).

Em setembro de 2016, Jaya é internada no famoso Apolo Hospital, em Chennai devido a uma infecção e profunda desidratação. Após muitos dias de hospitalização e muita repercussão em torno do seu real estado de saúde, no dia 5 de dezembro do mesmo ano, ela sofre uma parada cardíaca e deixa seus seguidores e admiradores para sempre.

Na época, eu morava na Índia e lembro que muito se falava do seu verdade estado de saúde. Havia boatos de que ela já havia falecido há muito mais tempo, mas para não alarmar o povo e evitar até suicídios coletivos por parte dos mais fanáticos, eles foram enrolando até anunciarem que ela havia sofrido um infarto e respirava com a ajuda de aparelhos. E, no dia seguinte, finalmente, anunciaram que ela havia falecido. Nesta época, outras teorias apareceram, sobretudo uma que dizia que ela havia sido envenenada a mando da sua principal oponente.

Seja lá qual for a verdade, Jayalalithaa é, até hoje, uma figura amada e admirada sobretudo pelo povo de Tamil Nadu, chegando ao status de uma quase santa. Estive em Chennai diversas vezes e, em uma delas, visitei seu memorial. Ela está ali, junto com seu amado MGR. Deixo o vídeo aqui para quem quiser assistir. A parte do memorial está mais para o final do vídeo.

Então…até a próxima!

Juliana

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Cinema indiano – A matriarca

Thalaivii - Tamil Version - Event Cinemas

Se tem uma coisa que sinto muita saudade da época que morava na Índia, é de minhas frequentes idas ao cinema. Aqui, nos cinemas, como só passa Hollywood e aqueles super heróis sem graça, eu nunca vou. Na época da gravidez, como estávamos em plena pandemia, assisti muitos filmes indianos no Amazon Prime. Desde que Zorawar nasceu, como meus horários mudaram muito, assistir um filme tornou-se uma missão quase impossível. Ainda mais porque no ano passado, a prioridade foi dos estudos mesmo, pois queria muito passar na seleção de mestrado.

Mas, ontem, finalmente, depois de tanto tempo, consegui assistir a um filme completo: Thalaivii, cujo título em português ficou como A matriarca. Thalaivii tem como protagonista ninguém menos do que Kangana Ranaut, que já apareceu aqui no blog na matéria que escrevemos sobre as mulheres dominando as telonas em 2014.

Mas voltando ao assunto….Thalaivii conta a trajetória da grande estrela do cinema indiano, Jayalalitha, que entrou para a política e foi eleita governadora do estado do Tamil Nadu pelo menos umas seis vezes.

State premier of Tamil Nadu, Jayalalitha, found guilty in graft case | News  | DW | 27.09.2014
A lendária Jayalalitha

Como creio que o público brasileiro não conhece esta grande mulher indiana, vamos aproveitar para contar sua trajetória para o público tupiniquim em nosso próximo post. Por enquanto, deixo vocês com o trailer.

escrito por Banjara Soul

A saga rumo ao mestrado

Foto por Anastasiya Gepp em Pexels.com

Me lembro que no início da minha gravidez, uma brasileira lá de Bangalore que havia tido bebê recentemente, ao ouvir sobre meu sonho de ingressar no mestrado, me soltou a pérola: ” Ih, Juliana…você tá muuuito enganada. Você tá pensando que vai ter tempo pra fazer alguma coisa quando seu bebê nascer? Vai sonhando, vai…”.

Aquelas palavras me marcaram. Sei que a pessoa teve um parto e pós parto traumáticos, mas isto não lhe dá o direito de desejar a ruína na vida de outra pessoa. E, se a maternidade estava sendo um perrengue para ela e a fez acabar com todos os sonhos e projetos, eu sinto muito, pois não era para ser assim. E isso eu determinei desde o início. Também cortei relações com esta pessoa, pois gente assim eu não precis na minha vida. Aliás, desde que me afastei um pouco das mídias sociais, o que mais tenho feito é filtrar amizades. Posso contar nos dedos de uma mão as que sobraram.

Quem me acompanha sabe que não estava nos meus planos ter filhos. Queria ter sim. Ter cinco filhos. Quando eu tinha meus vinte e poucos anos. Mas o tempo passou, a cabeça mudou, as prioridades eram outras e estava curtindo muito minha vida de solteira no Japão, viajando muito e, depois, minha vida de casada na Índia, viajando e trabalhando muito, também. E, quando eu pensava na maternidade, nunca era como um fim, mas como um recomeço. Talvez até como um hiato, mas nunca como um ponto final. Por isso, mesmo depois de ter sido mãe, continuei perseguindo o meu sonho de ingressar no mestrado em uma universidade pública.

No ano que tive o bebê, 2020, eu me inscrevi pela primeira vez na seleção de mestrado. Fora da minha área. Me inscrevi em algo relacionado a comunicação e audiovisual para poder abordar o cinema indiano. Porém, bem na época de terminar o projeto e revisar, eis que minha mãe é hospitalizada e, um mês depois, falece. Só Deus sabe de onde tirei forças para poder terminar de escrever. A revisão, nem fiz direito. Queria apenas entregar e me livrar daquilo. Resultado: reprovada. Não fiquei mal pois sabia que o momento não era propício e também por estar tentando fora da minha área.

Foto por Abby Chung em Pexels.com

Sendo assim, decidi que ia esperar o bebê nascer e, ficaria de olho nas seleções de mestrado que abririam em 2021. Foi o que fiz. Porém, eu ainda tinha na cabeça que eu deveria tentar o único mestrado no país em língua, cultura e literatura japonesa, que é na USP. Porém, esta experiência com a USP e seu departamento de japonês veio a ser a mais amarga de 2021. Como minha linha de pesquisa era em literatura japonesa, eu deveria comprovar que tinha o nível 2 da prova de proficiência em língua japonesa. Na verdade, eu tenho o nível 1. Mas como a prova foi feita há mais de 10 anos, falaram que já tinha passado da validade e eu teria que passar por uma prova de japonês do próprio centro de línguas da USP. Aceitei de boa. A prova de língua era a última das minhas preocupações. Fiz a prova toda online e achei bem tranquila. Lembro que eu só tinha ficado em dúvida em apenas uma questão. A partir daí começou uma série de acontecimentos estranhos que terminaram em uma troca de farpas entre eu e o departamento em questão. O resultado da prova de língua não foi divulgado. Nem por e-mail e nem na página da internet do departamento como é de praxe. O gabarito foi divulgado, mas eu não tinha a prova comigo para conferir, já que foi online. Tampouco tirei print da tela, pois como eu disse, a prova de língua era a última das minhas preocupações. O projeto e arguição sim, era o que eu temia.

Entreguei o projeto na data estipulada e fiquei aguardando eles marcarem a arguição, como mencionado no edital. A data da arguição acabou passando, ninguém entrou em contato e eu mandei um e-mail para averiguar. Foi quando eu recebi a pérola: ” Não, ainda não marcamos as entrevistas, mas eu lamento informar que você não passou na prova de língua. Por isso, para você, não haverá entrevista.”

Minha respiração cessou por alguns segundos. Não conseguia crer no que estava lendo. Meu marido saiu do banheiro e eu me acabei de chorar. Ele também não conseguia acreditar. Mandei um e-mail para minha coordenadora, japonesa, da escola onde trabalho e, ela disse, indignada: –“Poderiam te reprovar no projeto, na entrevista, mas…na prova de língua japonesa, nunca!”. Era o que eu precisava ouvir. Eu também tinha certeza disso. Esperei me acalmar e mandei um e-mail para a ouvidoria da USP, reclamando da falta de clareza da seleção. Me mandaram escrever não sei pra qual departamento. Escrevi, eles entraram em contato com a coordenadora da pós-graduação de japonês e a desculpa dela foi a mais absurda:” No próximo semestre tem de novo e aí você tenta! Se quiser a gente te isenta das taxas”. Respondi dizendo que não estava pedindo isenção de taxa nenhuma e não precisava desta esmola. E que, eu tentaria a seleção em uma universidade que tivesse uma nota mais alta no Capes, ao invés do medíocre 4 que eles estagnaram há anos. Após a troca de farpas, eu apenas encerrei dizendo: ” Vocês ainda vão ouvir falar muito de mim. Aguarde.” Fiquei bastante decepcionada, desiludida. Quando a gente não passa porque não tem capacidade, é aceitável. Mas quando a gente tem um currículo excelente e tudo para ser escolhida e nos passam uma rasteira, eu fico muito indignada. Odeio injustiça. Mas, a verdade seja dita: tem muito professor que quando vê alguém com a capacidade de ser tão bom ou melhor que ele, treme na base e quer ver a pessoa ou candidato bem longe. Professores são seres vaidosos. E, professores universitários, mais ainda.

Foto por Mikhail Nilov em Pexels.com

Mas, após este balde de água fria, eis que abre o concurso para professor de língua japonesa da UFRJ e, mesmo sem muitas esperanças, juntei o restante de forças que me restavam após o stress com a USP e me inscrevi. Prova escrita, prova didática, entrevista….Nem acreditei quando vi que havia ficado em 1o lugar! Era tudo o que eu precisava: estar inserida no mundo acadêmico mais uma vez. E desta vez, como docente, o que contaria muitos pontos no meu currículo Lattes, além de outras vantagens. Infelizmente, o contrato de professor contratado ou substituto, como eles chamam, é apenas de 2 anos e já estou entrando no meu segundo ano. Esta foi uma grande alegria do ano de 2022, mas mais alegrias seguiriam no segundo semestre.

Ainda perseguindo o mestrado, decidi mudar de ares. Apesar de ter estudado e ensinado japonês a vida toda, decidi que era hora de sair um pouco disso. Talvez a amarga experiência com a USP tenha sido, na verdade, para mostrar que eu deveria tentar novos rumos. Aproveitando que meu interesse em Índia hoje é muito maior do que no Japão, decidi prestar para estudos literários visando a possibilidade de abordar a literatura indiana.

E, ao invés de me focar em uma universidade apenas, me inscrevi para 4 seleções de mestrado em três universidades: UFF (Linguística e Estudos Literários), UERJ (Estudos Literários) e UFSC (Estudos da Tradução).

A primeira seleção foi a da UFF, para Linguística e, não passei na 1a fase. Mas, já era esperado, já que a prova tinha um viés bastante de esquerda e eu escrevi contestando o tema abordado. Afinal, pediram para dar a opinião com base nos estudos linguísticos. Eu dei, mas já sabia que as chances eram mínimas.

Ainda assim, continuei na luta. Ainda faltavam três. Elas exigiam um projeto de pesquisa. Apesar de eu ter usado o mesmo projeto para as três, o conteúdo do projeto deveria seguir o pedido em edital e, para isso, tive que fazer diversas modificações para tal.

Após a entrega do projeto, era só aguardar o resultado. Se eu passasse na 1a fase, iria para a arguição. Se não, teria que tentar novamente em 2022 ou desistir para sempre desta ideia, coisa que já me passava pela mente, pois parecia que eu nunca ia conseguir chegar lá. Já estava me consolando, dizendo que eu era mesmo uma tonta e que era melhor voltar para a vidinha no mundo corporativo, pois mesmo detestando, ia me pagar bem.

Porém, após ter dado o meu melhor na preparação para a seleção de mestrado e escrita do projeto, finalmente saiu o resultado: É, eu não precisaria voltar ao mundo corporativo. Poderia continuar sonhando em ser docente em uma universidade pública. O resultado, foi mais do que eu poderia sonhar: para quem almejava passar em uma seleção de mestrado….passei em três!! Lágrimas rolaram. Lágrimas de alegria, de alívio, de gratidão…

Foto por Ketut Subiyanto em Pexels.com

Então, certamente a grande novidade deste ano na área profissional é o meu ingresso no mestrado. E, certamente vou compartilhar com nossos leitores um pouco desta jornada. Se você pretende ingressar em um mestrado em universidade pública ou se conhece alguém que está nesta luta, manda acompanhar nosso blog este ano!

Um ótimo 2022 e bons estudos.

por Banjara

E que venha 2022!!

Feliz Ano Novo a todos que acompanham o nosso blog, canal do Youtube e página do Instagram! Não consegui fazer muitos vídeos em 2021, além de ter perdido a paciência para fazê-los, mas pretendo mudar um pouco a cara do canal e abordar outros assuntos relacionado à Ásia, como extensão aqui do blog. Mas, como sei que muita gente quer saber o que eu ando fazendo após a volta ao Brasil e a maternidade, vou contar um pouco.

Finalmente 2021 acabou e já estamos no 4o dia do ano novo. 2021 não foi de todo ruim. Foi sim, até o final do 1o semestre.

Este ano, além de começar meu tão esperado mestrado, continuarei lecionando na UFRJ, dando aulas de japonês e inglês para meus alunos particulares, participando de um grupo de pesquisa sobre literatura japonesa, participando de outro grupo sobre literatura indiana e, ainda tem a especialização em estudos japoneses, que com a pandemia e a aposentadoria da coordenadora do curso, virou de pernas para o ar e ninguém sabe o que será dela.

Além disso, claro, não podemos esquecer que também sou mãe de um bebê fofo de 1 aninho e esposa do pai dele. Ah, sim! Sou mãe de dois gatinhos, a Sakura e o Leo, que vocês já conheceram lá no meu canal. Ou seja: o ano de 2022 promete. Vai ser um ano agitado, mas onde creio que colheremos os frutos de todo o esforço e suor plantado nos anos anteriores.

E, para nossos leitores daqui e seguidores lá do canal e do Insta, desejo um ano com muita saúde, prosperidade e cheio de realizações.

Um abraço e obrigada pelo carinho constante.

Continuamos juntos em 2022.

por Banjara

Contos da Índia- Que fim levou Swati?

Foto de Mãos De Casamento Indiano e mais fotos de stock de Casamento -  iStock

Quem acompanhava o conto deve ter se questionado em relação ao futuro de Swati. Após a morte do amor de sua vida, o cenário estava montado para que sua família fizesse o tão sonhado casamento arranjado.

Swati continuou sua amizade com a mãe de Nikhil e frequentava sua casa pelo menos uma vez por semana. Talvez, uma maneira de manter viva a memória do filho e do amor que havia partido tão cedo. Amigos e familiares ainda não conseguiam acreditar que alguém tão jovem e aparentemente saudável possa ter morrido de parada cardíaca. “Foi magia negra”- disseram alguns. – Na Índia, para evitar um casamento, os pais são capazes de tudo!”- disseram outros. Até envenenamento por parte da mãe de Swati havia sido cogitado.

Porém, por mais que se cogitasse, nada mudaria a triste e solitária realidade de Swati, que agora precisava encontrar forçar para caminhar sozinha.

O sonho de Swati era ir ao Japão. Ela estudava japonês e estava juntando dinheiro para poder ir ao Japão estudar o idioma. Os amigos logo imaginaram que ela iria finalmente adiantar este projeto e ir ao Japão curar as feridas em um novo ambiente.

Alguns meses depois, o telefone da minha mesa toca:

Hey, Banjara. Sou eu, Swati!! Tenho uma novidade muito legal pra te contar!Você não vai nem imaginar!

Certa de que ela me diria que estava com passagem comprada para o Japão, eu disse:=

Imagino sim, mas quero ouvir da sua boca!”

– “Eu vou casar!

Como se um balde de água fria tivesse caído sobre minha cabeça, permaneci em silêncio por alguns segundos.

Se assustou?– disse Swati.

“Sim…achei que você fosse me dizer que ia ao Japão“.

– “Você sabe, Banjara…eu amo o Nikhil. Ele sempre será o grande amor da minha vida. Mas o Ravi é muito legal. Eu acho que ele vai ser um bom marido. E…minha família está muito feliz com ele.

Continuei sem saber o que dizer, mas tive que arrancar um “parabéns” não sei de onde para não bancar a grossa.

– “E eu tô ligando para avisar que assim que a data do casamento for marcada, eu te mando o convite e eu quero muito, muito mesmo que você venha!”

Ao desligar o telefone, não me contive e liguei para nossa outra amiga, que formava o trio. Ela, mesmo sendo indiana, também disse ter custado a crer no que acabara de ouvir. -“Esperava mais dela. Só isso“.

Eu também esperava mais dela. Esperava que ela fosse ao Japão e não desperdiçasse os anos de estudos do idioma, que conhecesse outro país, outra cultura, outro mundo, que morasse sozinha, que ficasse independente e aprendesse a ouvir sua própria voz ao invés de ouvir a voz da sociedade, representada através dos pais. Esperava que sua coragem e rebeldia iniciais e que inspiraram este conto jamais tivessem sido queimadas naquela pira junto com o jovem Nikhil.

E assim como tantas outras, ela entendeu que não adiantava luta contra as leis maiores da sociedade. Casar era a melhor alternativa. Talvez para esquecer o passado. Talvez para sair da casa dos pais. Talvez para mudar-se para uma nova cidade. Talvez para ter um lar do qual se sentisse dona. Talvez, talvez, talvez.

Marathi Marriage Dates In 2021 That You Need To Save Now! | WedMeGood

Não pude ir ao casamento de Swati pois tive outro casamento no mesmo dia na minha cidade. Não sei se não pude ou se uma parte de mim se recusou a ir. Se recusou a aceitar que toda aquela luta tenha sido em vão. E mais uma vez a tradição vencia.

O bebê de Swati e Ravi nasce no mês que vem. Preciso enviar as congratulações.

por Banjara

Contos da Índia – O que aconteceu com Swati?

Em 2016, publiquei aqui no blog uma série intitulada Contos da Índia, na qual um dos contos foi sobre o namoro de Swati e Nikhil. Lembro que a estória parou aqui no blog com a morte de Nikhil e no final, a pergunta: O que aconteceria a Swati?

Se você não lembra desta estória, vou deixar os links aqui para refrescar sua memória:

Agora que você já lembrou da nossa novela indiana, no próximo post, vou lhes contar o que aconteceu com Swati.

Fiquem ligados!

por Banjara Soul

Aversão a festividades??

Olá, pessoal!

Como foram de Natal?

Estive refletindo com meu marido sobre estas datas festivas e chegamos à conclusão de que elas são um saco e que se possível, não queremos mais participar de nenhuma delas. Fica aquela obrigação de ser legal, de ter que comprar presente pra meio mundo, de ter que estampar um sorriso falso no rosto quando o que mais você quer é apenas colocar as pernas para cima do sofá e ver um programa bem idiota na tv.

Quando minha mãe estava viva, o Natal sempre foi aqui em casa, já que ela era a grande matriarca da família. Nunca morri de amores pela data (nem por esta e nem por outras), mas confesso que toda aquela animação dela desde a arrumação da árvore de Natal até a escolha do cardápio eram contagiosas. O Natal era a cara dela. Quando voltei em 2019, o Natal foi aqui em casa, como de praxe. Foi animado e minha mãe estava muito, muito feliz. Desde 2008 eu não passava um Natal junto com ela, se não me engano. Então, ela estava radiante. Tomou cervejinha e bebeu até uma taça de vinho. Depois do almoço, disse que estava cansada e ia deitar. Ela realmente estava feliz. E isso me deixava feliz. Ano passado, ela já não estava mais conosco. Meu bebê tinha acabado de completar um mês de vida. Eu, ainda me recuperando de uma infecção pós-parto, meu marido com Covid isolado no quarto e nosso Natal foi bem triste, em casa. Este ano, vi que a data se aproximava novamente. Já não havia mais ninguém com Covid em casa, meu bebê já havia completado um aninho, mas não havia nenhuma empolgação. Apenas um sentimento vazio de obrigação. Minha mãe já não estava mais aqui. O Natal era ela. E ela era o Natal. Ela amava receber as pessoas e cozinhar para elas. Eu odeio cozinhar e odeio que venham na minha casa. Meu marido, gosta de cozinhar, mas odeia receber visitas. E mais um Natal se passou, já planejando um plano de fuga para o Ano Novo. Mas, este ano não vai dar para escapar. Ano que vem, quem sabe. Já estamos planejando como fugir do Natal. Mas antes, ainda tem a Páscoa, os aniversários que as pessoas cismam em comemorar….

Mas eu adoro casamentos. Só que ninguém do meu ciclo casa. Nenhum casório á vista. Na Índia, sempre havia um casamento. Como as pessoas casam na Índia!! E eu adoro os casamentos indianos. Ou seja, eu não sou tão antissocial ( agora é com ss, né?) assim. Talvez eu precise apenas de cores, música e estímulo. Talvez o peru do Natal já não me atraia tanto quanto um butter chicken.

Não sei. Só sei que quando a gente passa um tempo inserido em outras culturas, aquilo que parecia importante para você, já não é mais. Você aprende outros significados, outras maneiras de celebrar, de existir…ou de simplesmente…fugir.

Um ótimo 2022 para todos!! Cada um no seu quadrado, de preferência.

Além do Miss Índia e Miss Universo

Harnaaz-Sandhu-India-Miss-Universo-2021
Harnaaz Sandhu

Como a maioria deve saber, uma bela indiana chamada Harnaaz Sandhu, que já era Miss Índia, foi eleita a Miss Universo esta semana. Não há dúvidas de que as mulheres indianas são belas. Basta dar um pulinho na Índia e entrar em um vagão de trem ou metrô para reparar isso. Elas quase não usam maquiagem no dia a dia e é possível ver a beleza natural. Quem tiver curiosidade, basta dar um pulinho no meu canal (Banjara Soul) para conferir.

Porém, ao ver a indiana sendo coroada esta semana, fiquei pensando: Há tantas mulheres indianas maravilhosas as quais o mundo nem conhece ou se conhece, é um público muito restrito. Mulheres que desafiaram e desafiam tabus, que lutam contra o patriarcado, contra sua própria existência na sociedade. Estas indianas deveriam ser mais faladas e lembradas. Há indianas cientistas, empresárias, doutoras, professoras. Tem aquelas que trabalham em obras e construções, carregando peso e fazendo um trabalho o qual julgamos típico de um homem. Porém aqui, eu quero abordar um certo grupo de mulheres. Mulheres que através de sua escrita, quebraram tabus, levaram conhecimento e beleza ao mundo. As escritoras indianas. Algumas, escrevendo em inglês, ganharam fama pelo mundo, como Arundhati Roy e Jhumpa Lahiri. Outras, escrevem em sua língua materna e, permanecem ainda sem traduções para que o público internacional as veja.

A partir de hoje, tanto no blog e menos frequentemente no canal, irei apresentá-los ao maravilhoso mundo das autoras indianas. Percebo que desde que a Índia ganhou visibilidade aqui no Brasil com o Brics e, principalmente com a novela Caminho das Índias, a academia começou a produzir trabalhos sobre autoras indianas, sobretudo as da linha diaspórica. Porém, há muito o que estudar e pesquisar. E aqui, será o espaço dedicado a compartilharmos conhecimento sobre este lado da Índia: a literatura.

Nos próximos posts, claro, abordaremos diversos autores indianos, não só mulheres, mas o grande foco, será nelas. Espero que vocês gostem e aprendam a apreciar a literatura que não é produzida somente no ocidente.

Namaste.

O Afeganistão e seus abutres

Olá, pessoal!

Hoje venho tratar de um assunto que muito tem me incomodado. Um país sobre o qual mal se comentava e que andava um tanto esquecido, do nada, passa a aparecer na mídia incessantemente. Estou falando do Afeganistão. E, antes que você me pergunte….não, ele não fica no Oriente Médio.

Mas, o que tem me incomodado, não é o Afeganistão. Tampouco, os talibãs. O que tem me incomodado e, muito, é a quantidade de gente que do dia para a noite virou expert do país, de sua história e cultura sem nunca nem ter pisado lá!

Infelizmente, minha viagem ao Afeganistão, que era para acontecer em 2018, teve que ser abortada, pois tive problemas na empresa onde eu trabalhava e não pude levar a viagem a cabo. Porém, é impossível morar na Índia e ficar alheia ao Afeganistão, pois além de ambos estarem próximos um do outro geograficamente falando, também o estão culturalmente. E, para quem não sabe, há uma população afegã imensa na Índia, sobretudo de estudantes universitários, já que a Índia tem um sistema todo especial para afegãos. Isto, claro, sem contar as famílias que visitam a Índia para turismo médico, buscando tratamento de ponta de baixo custo ainda não disponível em seu país.

Entretanto, eu venho aqui hoje, apenas alertar os nossos leitores para que não acreditem em qualquer notícia sobre o Afeganistão veiculada na mídia. Nem de repórteres e comentaristas que nada sabem sobre o país e vivem em seu mundinho eurocêntrico. Nem de outros que acham que os EUA vão salvar o Afeganistão, as mulheres e as crianças e todos terão um final feliz. É preciso compreender a história do Afeganistão, o surgimento do Islã no país, o surgimento do talibã, a questão das mulheres e tantos outros aspectos antes de abrir a boca para falar besteira.

Como nosso intuito aqui é passar conhecimento e não só criticar, aproveito para indicar dois vídeos muito bons e esclarecedores para quem quer saber o que acontece no Afeganistão. O primeiro vídeo, é da Profa.Muna Omran, que pesquisa a questão feminina nos países islâmicos e é um dos nomes mais importantes nesta área aqui no Brasil.

O segundo vídeo, é para quem gosta de história. O vídeo, é do também Prof. Emiliano Unzer, da Universidade Federal do Espírito Santo. O professor Emiliano é talvez o nome mais importante quando se trata de história da Ásia aqui no Brasil. Super recomendo o canal dele para quem deseja iniciar seus estudos asiáticos. Um dos vídeos mais recentes do canal foi até um em que ele falou sobre a independência da Índia. Vale muito a pena. Sempre utilizo os textos deste professor para preparar minhas aulas de história e civilização japonesa.

Mas, voltando ao assunto do Afeganistão….deixo dois vídeos com vocês. No primeiro, uma breve contextualização da situação do país. E, no segundo, o vídeo no qual o professor conta um pouco da rica e antiga história deste país.

E, para quem quer saber mais sobre o assunto, indico os vários posts que temos aqui no blog sobre o país, além de dicas de livros.

Um abraço e até a próxima!

Juliana

Tirando a poeira!!

Olá, pessoal! Há tempos não apareço por aqui. Acho que já tem quase um ano desde que escrevi o último post aqui. No canal do Youtube, também tenho publicado bem menos vídeos. Mas, como a Ásia continua morando meu coração e eu continuo trabalhando com este continente, eu decidi escrever esporadicamente aqui sobre ele.

Mapa do continente da ásia com cores diferentes | Vetor Premium
Ásia não é só China e Japão, tá?

Percebi que tanto o blog quanto o canal têm servido de fonte de informação sobre a Ásia desde que foram criados e, isso me orgulha muito. Não é fácil mostrar para as pessoas que a Ásia é muito mais rica culturalmente e interessante de ser estudada, pesquisada, quando nosso eixo é totalmente eurocêntrico. Estudamos sobre filosofia grega e outras áreas do conhecimento as quais julgamos ter nascido na Ocidente, quando na verdade, elas já existiam há milênios, em um continente chamado Ásia, por exemplo. Me lembro que outro dia estava lendo algo sobre a teoria literária, assumindo este conceito como se tivera sido criado na Europa. Mas, quem já ouviu falar sobre Panini, o grande gramático da Índia antiga, que considerava a teoria literária como a 4a categoria do discurso? Quem já ouviu falar sobre a Teoria de Rasa, criada por Bharata? Pois é….o assunto é extenso, mas deixei apenas estas questões acima para aguçar a curiosidade de vocês.

Sendo assim, a área de Estudos Asiáticos no Brasil ainda tem muito o que conquistar, mas já vejo alguns grupos e núcleos de pesquisa sendo formados e tentando desmistificar que a Ásia está mais próxima de nós do que pensamos. Afinal, a maioria do conhecimento que você acredita ter vindo da Europa, na verdade, já existia na Ásia há milênios. Eles apenas deram um nome ocidentalizado para conceitos já existentes.

Portanto, sigo com minha tarefa de compartilhar conhecimento sobre a Ásia com vocês e assim, ampliar a sua visão de mundo, pois a minha, foi ampliada desde o primeiro momento no qual comecei a aprender uma língua asiática.

Sendo assim, o blog segue com sua missão.

Um abraço e até a próxima!

Juliana ou…como vocês estão acostumados…Banjara Soul.