Contos da Índia – Sua impura! – Caso 2

Não faz nem uma semana que escrevi sobre o post da impureza e, hoje, já ouvi mais uma pérola lá no trabalho e, preciso compartilhar com vocês.

A melhor funcionária do nosso escritório, natural do Sul da India, mas criada em Mumbai, me contava como havia sido sua viagem de negócios ano passado a Chennai. Ela ficou na casa dos tios, para poupar hotel e, sua mãe e irmão aproveitaram e também foram juntos.

Não lembro qual era o assunto. Talvez, eu estivesse reclamando das minhas cólicas matinais. Sim, eu não fico escondendo que estou naqueles dias, algo que deve ser meio chocante para as indianas, não?

Então, ela vira e confessa que na época que estava na casa dos tios, no sul da India, foi complicado, porque ela também teve que ficar isolada de todos e, não podia entrar na cozinha, nem participar das orações matinais, nem tocar em ninguém. E, quem tocasse nela, ficava impuro, também!

Ela foi falando e eu fui imaginando a cena em minha mente. Eu ainda ousei perguntar:

– “Mas…não tem como esconder deles que você está naqueles dias?”

– “Não…não posso. Porque o absorvente tem que ser jogado separado. Não pode ir junto com o mesmo lixo da casa, porque é impuro. (como se o lixo fosse muito puro, não?) E, também não é legal esconder. Não acho justo. Foi até engraçado aquele dia, porque um dia, minha mãe e meu irmão saíram comigo e, quando chegaram em casa, tiveram que ir correndo para o banheiro tomar banho, para se purificar, já que eles haviam me tocado!”

De novo, eu não sabia se ria ou se chorava. Ela tem mestrado, o pai dela era presidente de uma empresa na Malásia, mas…parece que neste caso, a educação formal, novamente, não conseguiu apagar as fortes marcas da tradição machista de sua cultura. Me pergunto se poderá apagar um dia.

por Banjara