Chegando na sala de parto, as médicas já a colocaram naquela maca própria para mulheres em trabalho de parto. Segundo a médica, o bebê nasceria em uns 20 mins. A japonesa, por sua vez, não satisfeita, continuou insistindo para que eu pedisse a epidural para a médica. Fiz minha parte, mas a médica recusou, dizendo que agora não havia mais tempo e que o bebê nasceria a qualquer momento.
O marido da japonesa estava do lado de fora da sala de parto, com os outros dois filhinhos deles, um de 4 e outro de 1 e meio, fofíssimos. Às vezes, o marido entrava na sala de parto e eu revezava com ele, tomando conta dos pequerruchos para que eles nao entrassem na sala de parto.
Mas, de repente, as enfermeiras ou a própria médica falava alguma coisa e a paciente pedia que elas me chamassem para fazer a interpretação. Sendo assim, passei a maior parte do tempo na sala de parto, ansiosíssima. Afinal, era o primeiro parto que eu assistiria ao vivo!
As contrações pararam por um momento. A médica cansou de esperar, tirou as luvas e começou a usar seu I-phone. A japonesa depois comentou que ficou horrorizada com o aparente descaso da médica, sentada, mexendo no I-phone, enquanto esperava o bebê vir ao mundo. Sim, no Japão seria impossível tal cena. Porém, a doutora, além de ter muitos anos de experiência, é super tranquila e como está acostumada a fazer partos todos dia, para ela, era a coisa mais normal do mundo. Como o bebê não chegava e as contrações tinham parado, a médica me chamou e disse que ia induzir um pouco o parto, colocando uma substância no soro. Colocada a substância, a doutora saiu da sala de parto e ficaram só a parteira e uma enfermeira.E, eu é claro.
De repente, as contrações começaram a vir. A enfermeira chefe me disse: – “Onde está a doutora? Por favor, chame a doutora que o bebê já vai sair!”
Corri para a sala ao lado, bati umas 3 vezes e ninguém atendeu. Não tive outra opção a não ser abrir a porta. Quando abro a porta, quem está lá dentro? A doutora, sentada em uma cadeira, com os olhos fechados e ouvindo música!!!! Nem contei isso para a japonesa, pois ela ficaria deseperada!
A doutora olhou para mim e disse: – ” Ah! As contrações voltaram, né? Pois é…geralmente, quando eu decido sair da sala de parto, os bebês decidem nascer. Por isso, eu sempre saio. Hahahaha…”
Que piada, né? Foi a médica voltar, que as contrações vieram com toda a força. A japonesa pediu a máscara de óxido nitroso, que não é uma técnica muito difundida no Brasil, mas usada em alguns países para aliviar a dor das contrações. Porém, a máscara deixa a pessoa inconsciente por alguns segundos e, por isso, a enfermeira não queria usar, já que estávamos nos momentos decisivos e, a japonesa não teria outra opção a não ser fazer força.
Para quem estiver interessada no gás, aqui vai uma matéria a respeito:
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/02/150219_gas_hilariante_mdb
A doutora disse: Mais duas vezes a contração virá. Você terá que fazer bastante força, do mesmo jeito que você faz quando evacua. E na segunda, o bebê vai nascer.
Dito e feito! Na segunda contração, só vejo aquela cabecinha cabeluda saindo de dentro da vagina e a doutora, dizendo: – “Parabéns! Você acabou de ter um menininho! (outro, já que ela já tem 2!)”
Depois disso, as enfermeiras limparam tudo e prepararam a japonesa para ir para o quarto. Assim que o bebê nasceu, a vacina contra Hepatite B é dada aqui na Índia. E, antes de a mãe e o bebê terem alta, a BCG e Pólio também são administradas.
Chegamos no hospital às 2:30 e o bebê nasceu às 04:26. Só posso dizer a nossos leitores que foi inesquecível, uma das coisas mais lindas que eu já vi em minha vida. E, só me fez ter certeza de que estando saudável, certamente terei um bebê por parto normal. Prefiro encarar a dor do que aquela carnificina da cesárea.
No mais, agradeço a toda a equipe do hospital por me dado liberdade total para fazer meu trabalho de intérprete. E, agradeço, também, ao casal japonês, pela confiança.
Querem saber mais detalhes sobre o hospital e o processo pós-parto? Em breve eu conto para vocês!
Um abraço e até a próxima!
por Banjara
Nossa Ju, lendo o relato por escrito lembrei de vc contando isso tudo… cara, tu tem estômago de aço hein!? Eu não aguento ver nem pela TV, que dirá ao vivo e a cores a um palmo de distância!!! Parabéns pela coragem e por ser isso tudo de bom que vc é 😉 Que Deus me ajude a fazer o mesmo ótimo trabalho que dona Wilma fez!
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Oi, Fabi!!!Pois eh…me arrependo nao ter estudado mais quimica e biologia, porque desde jovem meu sonho era ser medica. Mas, estou realizando este pequeno sonho depois de quase 20 anos. Obrigada pelas suas palavras. Sei que sao de coracao. Beijos!!!!
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Parabéns Ju o teu trabalho é lindo. Mas me tira uma dúvida ambos são japoneses?? Eles estão morando na Índia por qual intuito sendo que o Japão é um país fenomenal. Bjs💋💋
Enviado do meu iPhone
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Muita gente não sabe, mas um dos mehores lugares para se investir hoje, é a Índia, cuja economia está bombando. Sabendo disso, há milhares de empresas japonsas aqui e, estes japoneses trabalham para estas empresas. São o que chamamos de expats (expatriados). Eles ficam aqui de 3 a 5 anos, gahando uma grana, morando em condomínios luxuosos e trabalhando para a empresa a qual pertencem. E, como a Índia é um mercado muito difícil, só os japoneses top de linha vêm para cá. Portanto, eles não só ganham mais, como também têm muito mais conforto e regalias do que se estivessem no Japão, por exemplo. Um abraço.
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Que lindo!! O nascimento de um baby é sempre uma benção! Querida Banjara, tenho como sonho conhecer/viver na Índia. Sei que há grande diferença cultural! Mas tambem acho que alguns habitos meus seriam melhor encarados lá. Tipo eu não bebo, não curto baladas nem nada do tipo hahah e as vezes no Brasil a gente se sente meio et por não fazer parte disso. Prefiro programas mais calmos como cinema, shopping, viagens. Acho que aqui no Brasil ha muita pressão por ter que gostar de certas coisas e quem não se encaixa/não gosta é visto como meio fora do molde haha. Como isso é tratado na Índia. Um abraço amo o seu blog, vc é muito educada!
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Bem, para os padroes casamenteiros daqui, voce teria o perfil da esposa perfeita: nao bebe, nao gosta de balada. Sou do mesmo time. Mas, hoje, a maioria dos jovens indianos das cidades grandes sonham em ir para as baladas, beber ate cair, etc. Sim…eu sentia muita pressao no Brasil e justamente por nao me encaixar no padrao de la, eh que eu nao via a hora de me mudar para a Asia. Um abraco e obrigada pelo carinho!
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