Olá, pessoal!
Apesar de eu não ser aquilo que se chama de o protótipo da brasileira, posso afirmar que tem uma característica comum a quase todas as brasileiras: são simpáticas e sorridentes. Isto, claro, é algo muito bom e que aproxima as pessoas. Sempre costumava ser muito elogiada pelos meus professores japoneses e pelos chefes japoneses, dizendo que eu estava sempre sorridente e que meu sorriso era a marca registrada. Porém, já imaginou um lugar onde sua marca registrada é mal vista? Bem-vindos à Índia. Neste Contos da Índia de hoje, eu sou a protagonista e, vou contar-lhes o meu drama pessoal na tentativa (quase frustrada) de esconder aquilo que eu mais gosto: o meu sorriso.
Primeiro, você deve estar se perguntando porque e como um sorriso pode ser mal visto. Saia do comforto do seu mundo ocidentalizado e venha para o outro lado da força: o Oriente. O posto vai falar mais sobre a Índia porque eu moro aqui, mas o mesmo fenômeno acontece em outros países vizinhos e no Oriente Médio. A questão do sorriso ( ou riso) ainda é complicada para mim, já que até em casa, às vezes, meu marido me pergunta porque eu ri de determinado comentário que ele fez, sendo que não era uma piada. Com isso, percebemos que o “timing” para sorrir aqui é outro (só não me pergunte qual é, porque ainda não descobri!).

Bom, deixe-me começar a contar alguns casos para vocês:
Caso 1 – Aulas de japonês…só que não.
Houve uma época que eu não tinha visto para trabalhar formalmente na Índia. Sendo assim, enquanto o visto permanente não saía, comecei a fazer o que sempre fiz: dar aulas de idiomas (português, japonês, inglês) e fazer trabalhos de tradução.
Me afiliei a um curso de idiomas aqui perto e, não demorou muito para o primeiro aluno aparecer. Ele queria aprender japonês. Toda feliz, comecei minhas aulas. O aluno era excelente e seu desenvolvimento era surpreeendente. Ele tinha 32 anos na época, mas eu sempre olhei todos os meus alunos como crianças e aprendizes, e nunca como potenciais partidos, mesmo quando eu era solteira. Também sempre gostei de fazer uma aula descontraída, onde tivesse bastante oportunidade do aluno falar e usar o idioma. Não me lembro muito bem quando ele mudou o comportamento, mas um dia, ele apareceu com um embrulho para mim. Eu achei muito gentil da parte dele (ingenuidade minha…) e perguntei o que era. Ele disse que era um doce indiano que eu dissera na outra aula que gostava muito(nem lembrava mais disso!). Aceitei o doce, trouxe para casa e toda feliz (idiota!), falei pro meu marido (que também adora o doce!):
– “Olha só o que meu aluno me deu! Ele comprou rasmalai para mim! Que bonzinho, né?”
Na mesma hora, meu marido mudou de expressão e com seu habitual sarcasmo disse: – E o que ele vai querer em troca deste doce?
Achei um absurdo o comentário do meu esposo e disse: -” Você é desagradável! Só vê maldade em tudo! Não dá para ter um coração mais puro, não?”
Se você é casada com indiano, já deve saber a resposta: é a mesma resposta que eles têm para várias coisas diferentes:
– “Eu sou indiano. Eu sei do que estou falando. Eu sei como são os homens indianos. Você não sabe. Você é ingênua!”
E sabem o que é pior disso tudo? Ele tinha razão.
O aluno acabou se empolgando com minha simpatia e um dia me mandou uma mensagem no estilo “papo de estudantes colegiais apaixonados da década de 50”. Eu percebi que havia cometido um grande erro sendo simpática, ou melhor, sendo eu mesma. Por isso, deletei a mensagem e não respondi. Sorte que isso foi depois da última aula do curso. Caso contrário iria ficar um clima muito estranho e eu ia me sentir bem sem graça de continuar minhas aulas.
Caso 2 – Aulas de português..só que não.
O próximo caso aconteceu com um aluno que pediu aulas particulares de português. Ele ja era proficiente em espanhol e já tinha o português intermediário. Como seria mandado pela empresa para trabalhar no Brasil, ele estava querendo retomar as aulas de português. Dizem que a primeira impressão é a que fica, mas não senti muita paz quando o encontrei pela primeira vez. Mas, como sua habilidade linguistica era impressionante, achei que eu estava sendo apenas pré-conceituosa e segui com as aulas. Na segunda aula, ele fez um comentário que eu considerei totalmente inadequado, ainda que fosse um fato. Quando perguntei se ele se mudaria com a família para o Brasil, ele disse que era solteiro e me soltou a seguinte pérola:
– ” Eu sou solteiro, mas minha família está tentando arranjar meu casamento Você sabe, sou da Caxemira. Somos em número muito pequeno na Índia e,por isso, precisamos casar com pessoas do nosso mesmo grupo, mas…na verdade eu queria mesmo era casar com uma latina….brasileira, argentina…algo assim. Eu e as latinas temos uma química extraordinária.”
Fiquei muito sem graça e apenas respondi cordialmente:
– “Bem, seja lá qual for sua decisão, espero que seja feliz. Mas…voltando aos advérbios de tempo…”
Continuamos a aula. Mas, graças a Deus, o curso não vingou, porque ele insistiu que queria um certificado de conclusão do curso, o qual não poderia dar, já que não sou um instituto registrado pela lei indiana.
Mas, acham que ele desistiu das aulas? Esse papo para boi dormir que contei acima, aconteceu em 2014. Ano passado, mais de um ano depois, no Diwali, o telefone do meu esposo toca e ele atende. Adivinham quem era? O próprio!
Como na época eu costumava colocar o celular do meu esposo nos meus cartões de visita, ele deve ter discado e levado um susto quando outro homem atendeu. Após alguns segundos de conversa, meu esposo entendeu que era para aula de português e me passou o telefone.
– “Sou o fulano, da empresa tal que teve aula de português contigo. Lembra de mim? “- começou ele.
– “Sim, lembro, sim”.
– ” Pois é…eu saí daquela empresa e estava pensando em ocupar meu tempo livre com umas aulas intensivas de português, para completar o curso. O que você me diz? ”
Não quis ser rude, mas na hora pensei: – “Nem pensar, meu filho!”
Como ele disse que não sabia mais qual era o nível dele, eu prometi que enviaria um teste de nivelamento por e-mail e, que avaliaria o nível dele através do mesmo. Enviei e, juntamente com o teste, mandei a mensagem, dizendo, educadamente, que estava envolvida em muitos projetos e que não poderia assumir nenhuma aula pelos próximos meses. Mas, pedi que ele enviasse o teste de nivelamento para que eu avaliasse.
Pensam que ele enviou alguma coisa? Ou seja: ele não estava interessado coisíssima nenhuma em nivelar o português dele!! Ou, pelo menos, não da mesma maneira que eu queria nivelar.

Depois de todos estes acontecimentos, eu e meu esposo chegamos à triste conclusão de que, aulas particulares, só mesmo para japoneses e estrangeiros. Para indianos, nem pensar! Primeiro, porque já são ruins de pagar e, segundo, porque eles têm a estranha idéia de que professora particular é o mesmo que mulher da vida, que vai fazer sexo à domicílio. Custei a acreditar quando meu esposo me dizia que esta é a mentalidade da maioria dos indianos em relação a professoras particulares, mas hoje, depois de muitas saias justas, odeio admitir que ele tinha razão.
Porém, nem tudo está perdido. Em 2014, dei um curso de português em uma empresa aqui em Mumbai, com uma turma composta apenas por homens e, o curso, além de ter sido um sucesso, ainda foi muito legal para trocar idéia com eles, ensinar mais sobre o Brasil e nosso idioma e aprender mais sobre a Índia deles. E, como estávamos em grupo, todos foram muito, muito respeitadores.
Bom, se o problema foi o sorriso fácil da brasileira ou simplesmente o estigma carregado por uma estrangeira ocidental em um país machista, não sei, mas me ensinou a nunca mais ser professora particular de indiano.
Bom, este aqui foi o relato de hoje de Uma brasileira em apuros. Em breve, tem mais!
Oi, Banjara, eu de novo. Vejo muitas situações aí na Índia muito parecida com o Brasil. O sorriso da mulher, por exemplo. Está provado que o quê conquista o homem é o sorriso da mulher. Aqui no Brasil, mulher de cara muito fechada não consegue nada. Mas, se voce rir para todos os homens, eles entendem que voce está se oferecendo para eles. É complicado. Eu já entrei em muitas saias justas aqui no Brasil por causa disso. Pois eu gosto de sorrir e falar com todo mundo que anda comigo: o motorista de táxi, o piloto do mototáxi, o motorista do ônibus, o vendedor da loja, etc, etc. Quer dizer mais um teste para ir até a Índia em que eu falhei… hahahahhahahahhaha…. Esperarei o próximo teste…rsrsrsrsrsrs
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No Brasil, eu nao lembro de ter enfrentado nenhuma saia justa devido ao sorriso, ou, pelo menos, nunca fui mal interpretada como sou na India. Eu tambem gosto de bater papo com todo mundo e trato todo mundo igual. Mas aqui na India, isto eh muito dificil. Se voce trata uma empregada bem e sorri para ela, ela vai achar que voce eh boba e facil de passar a perna. Ai, vai chegar com vaaaarias estorias para voce. Ja os homens, nem se fala…Sejam eles estudados ou simples motoristas de auto-ricksaw, a mentalidade nao muda muito. Sorriu muito, eh presa facil! Triste, mas eh a realidade. Um abraco!
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Ola Juliana bom dia!!! preciso tirar umas dúvidas contigo mas de preferência em particular pode ser!!!
Obrigada
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Ola, Miriam! Pode escrever para juinjapansince2007@gmail.com. Um abraco!
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Muito obrigada pelo email faz Juliana
Enviado do meu iPhone
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Aaah é por isso que a gente vê aqueles casamentos indianos em que a noiva fica com aquela cara fechada de “quem comeu e não gostou” como se ela estivesse super aporrinhada com a festa!
Mas esse lance de acharem que professora particular tem que ensinar “outras coisas” além da matéria é o cumulo!!
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Me identifiquei com a frase – “Eu sou indiano. Eu sei do que estou falando. Eu sei como são os homens indianos. Você não sabe. Você é ingênua!” hahaha e te garanto que eu já ouvi muito essa frase , não sabia mas ele estava certo! Quando vem indiano desacompanhado da esposa, quem serve o chá é meu marido. Eu faço o chá e ele serve kkkk já joga logo um “balde de água fria” no rapaz kkkkk mas hoje eu entendo o porquê.
Beijos
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As vezes, acho que nossos maridos sao gemeos!Hahaha…brincadeira, mas deve ser o fator Norte da India, que faz com que eles sejam assim. Alias, ele eh o unico marido indiano de amiga brasileira que meu esposo gostaria de conhecer. Ele esta muito bem conceituado no ranking do meu esposo. (rs) Alias, aqui em casa nao vem ninguem, mas quando veio um primo, ele mesmo serviu tudo, inclusive o jantar e o primo so me viu mesmo quando eu abri a porta. Um abraco, Star!!!
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hahahah Juliana, a cada dia fico mais convencida com a semelhança! Também acho que o fator Norte da Índia tenha grande importância nisso. Aqui em casa também foram e são raras as vezes que recebemos visitas de indianos até porque o número de indiano no Brasil é relativamente pequeno mas já passamos por algumas boas experiências rsrs
Me sinto lisonjeada sobre a vontade de conhecer e o bom conceito no ranking!
Saiba que aqui em casa a recíproca é verdadeira!
Um abraço!!!
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“A questão do sorriso ( ou riso) ainda é complicada para mim, já que até em casa, às vezes, meu marido me pergunta porque eu ri de determinado comentário que ele fez, sendo que não era uma piada. Com isso, percebemos que o “timing” para sorrir aqui é outro (só não me pergunte qual é, porque ainda não descobri!).”
kkkkkkk Banjara, essa ficou muito engraçada. Sabe, com a idade e os problemas, eu rio muito menos agora e já estou ficando com complexo de “chata de galocha”. É cultural no Brasil você ser sorridente e até pega mal uma pessoa de cara sempre séria. Diz-se que é uma pessoa vampira de energia.
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Oi, Maura!!Obrigada pelo comentario. Eh verdade. No Brasil o sorriso eh uma questao de educacao, tambem. E eu nunca pensei muito sobre o assunto enquanto morava no Brasil, mas aqui, volta e meia eu fico me policiando para nao causar nenhum stress! Beijos!
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