Contos da Índia – Privacidade em questão

Vocês que acompanham as nossas estórias,  já devem ter percebido que privacidade na Índia tem um significado bem diferente do que no Brasil e outros países do Ocidente.

Porém, mesmo já sabendo disso, a Índia não cansa de me surpreender! Então, sentem-se que lá vem mais um “causo”.

Estava eu ontem, no escritório, quando minha estimada colega de trabalho recebe o telefonema de sua mãe, dizendo que um pacote havia chegado para ela dos EUA, vindo de uma amiga indiana que mora lá. Porém, qual não foi minha surpresa quando de repente, minha colega muda o tom de voz e começa a implorar para a mãe dela assim:

“Não, mãe…por favor.Não faz isso. Não abre o pacote, não. Eu já sou uma menina crescida. (ela tem 23 anos). Eu já posso abrir os pacotes. Por favor, mãe, não abre…por favor!”

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Neste momento, até parei de digitar e fiquei prestando atenção para saber o desfecho da estória. Ela desligou o telefone, ainda na esperança de que sua mãe não fosse abrir o pacote. Porém, nem um minuto se passou e ela começou a trocar mensagens com sua mãe no Whats app. De repente, o silêncio. Eu morrendo de curiosidade, mas tecnicamente concentrada em meu trabalho de digitação. Até que ela lança um suspiro. Nesta hora, eu pergunto: –O que foi??

Ela responde: – Minha mãe….ela já abriu o pacote. 

Foi visível a decepção da menina, mesmo que no pacote não tivesse nada além de um presente dado por uma amiga. Porém, mais uma vez me peguei pensando na família indiana e como eles controlam seus filhos e membros, seja através de grandes atos ou de atos ridículos como estes da mãe dela.

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Eu achei um absurdo a mãe abrir o presente da filha sem a permissão da mesma. Lembrei dos inúmeros diários e agendas que colecionava e escrevia freneticamente na infância e adolescência e os quais jamais despertaram nenhum sentimento de curiosidade em minha mãe. E ainda que o tivesse feito, ela certamente jamais me pediria para lê-los ou muito menos tentaria lê-los escondido. Porém, imediatamente me lembrei de minha sogra, que além de usar minhas roupas sem permissão, ainda abre a minha mala, também sem permissão quando vou visitá-la. Geralmente, para escolher alguma roupa para eu vestir ou simplesmente para ver que roupas eu trouxe de Mumbai.

E ai de quem ousa passar por cima da autoridade de uma mãe indiana!!! Elas podem não ter muita voz ativa ou autoridade entre os homens da família, mas sabem muito bem exercer sua autoridade com os filhos e com os mais jovens que elas, como as noras, por exemplo. É aí onde elas podem ( e conseguem) mandar, desmandar, controlar….fazer tudo aquilo que sempre sonharam, mas o mundo machista sempre as impediu.

E a Índia segue assim….ainda me surpreendendo.

Um abraço e até a próxima!!!

por Banjara

 

 

 

 

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Publicado por Banjara Soul

Este blog é para compartilhar um pouco das estórias e memórias que acumulei ao longo de 13 anos no incrível continente chamado Ásia. Hoje, de volta ao Brasil, mas com a Ásia no coração, continuo compartilhando informações do continente com vocês!

12 comentários em “Contos da Índia – Privacidade em questão

  1. Oi Juliana,

    Coitada da moça, e se fosse um conteúdo vergonhoso? hehehe
    A falta de privacidade me incomoda bastante e se estivesse entrando para uma família mais tradicional e menos ocidental com certeza meu choque seria maior. Graças a Deus minha sogra tem se mostrado bem sensata quanto esse ponto e até o momento estamos em paz. kkkk

    Beijos & Abraços,
    Leticya.

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  2. Quando eu tinha 14 anos, uma menina muito inocente, imatura e controlada pela minha mamãe brasileira não muito diferente das mamaes indianas, minha vida de adolescente se passava da escola para casa, da casa para a igreja, e o mundo de uma adolescente só me era aberto quando eu lia aquelas revistas teen, acho q o nome era Caricia, e tinha umas sessões de perguntas e respostas, então eu tive a idéia de escrever e perguntar sobre amizades, pois para mim este mundo de amizade entre adolescentes era algo inusitado e secreto pois eu era tímida e não fazia parte de grupos de amizade, nem ao menos sabia oq as meninas ou meninos sempre conversavam, e tinha medo de penetrar os grupinhos de escola e passar vergonha falando bobagens, foi então q minha mãe fuçando meu caderno velho viu a minha cartinha e logo falou alto: humm cartinha para a revista! vamos ler. Então eu disse por favor não leia, eu não gosto. Ai ela : como não ler eu sou sua mãe, e começou, eu implorava para que parasse, mas ela insistia, então comecei a chorar sem parar, puxei a carta da mão dela e enfiei na boca, ai ela disse: agora vai ter q engolir! kkk e eu consegui engolir parte da carta, e ainda levei um coro por tentar ter segredos com minha mãe, kkk nossa era muito difícil lidar com essa falta de privacidade, o pior q ela depois ainda ficava debochando de mim, pronto esse é o meu causo, bjs

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    1. Oi, Claudia!!Nossa..obrigada por compartilhar sua estoria aqui. Quando voce estava contando de sua infancia, por alguns instantes, achei que eu tivesse escrito o texto,pois de parecia demais com a minha. Minha mae tambem era muito controladora, mesmo depois que eu ja estava na faculdade. Nao entendia porque eu tinha que ser tao diferente dos outros colegas. Porem, neste quesito de privacidade, minha mae sempre pegou leve. Beijos !!

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  3. Namaste!! Também tenho adorado estes casos da Índia!! Mas é algo que aqui nem funciona assim de longe…mas acompanho a novela sobre o Sheva (Devon Ke Dev Mahadev) e ali percebo o quanto os filhos devem obedecer seus pais e quando vc não o faz sente-se muito mal, com “peso na consciência”… Agora o “peor” é a sogra, caraca, fico imaginando minha mãe que tem 2 noras fazer isso com elas quando viessem nos visitar…rs…rs….acho que elas viriam uma vez por ano!!!

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  4. Nossa, realmente essa atitude da mãe foi muito controladora! Coitada da moça! A mãe não quer que a filha seja independente… Eu tô amando essa seção do blog com esses casos da Índia. 😊

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