Olá, pessoal!
Estou inaugurando esta nova seção no nosso blog, onde vou compartilhar com vocês alguns “causos” que presenciei aqui na Índia e, com os quais, certamente, vocês poderão aprender ainda mais sobre a sociedade deste complexo, porém encantador país o qual, hoje, é minha segunda, ou porque não, primeira casa.
O indiano sonhador
Era tarde da noite em um vilarejo de Madhya Pradesh. Após nossa cansativa viagem, procurávamos um local para jantar e, aquela hora, quase tudo já estava fechado. Até as vacas já estavam recolhidas para repousar. Foi então, quando avistamos um restaurante com um terraço, o qual parecia ainda estar aberto. E, assim, decidimos entrar.
Ao sentarmos à mesa e fazermos o pedido, o garçom,um rapaz de baixa estatura, porém muito simpático, sentou à nossa mesa. Minha amiga espanhola se espantou com a atitudede dele e disse para mim em espanhol: – Esta noche tenemos un amigo!
Nosso “amigo” era realmente um ser especial. Tanto que, imediatamente, me veio a idéia de escrever um artigo sobre ele.
_” Você gosta de Bollywood?“, perguntou ele.
-“Adoro“!!-respondi.
Ele prosseguiu: – “E qual o seu filme predileto?”
-“Jab we met, o primeiro filme indiano que assisti“.
Do nada, nosso amigo começou a entoar as primeiras notas da canção tema do filme “Ye Ishq hai“, a minha predileta, por sinal.
Ficamos surpresas com seu talento. Que voz! E, com que paixão ele cantava!!!
Depois, ele disse que iria cantar sua canção predileta: ” Tum hi ho” (do filme Aashqui 2″), uma das mais belas canções em hindi dos últimos anos. Sua bela voz, ritmo perfeito e paixão pelo canto fez aquela noite mais que especial.
Aplaudimos efusivamentente, mas já imaginando que aquele pequeno show me custaria algumas centenas de rúpias, como de praxe.
Porém , Vinod (este era seu nome), começou a nos contar seu drama. Ele queria ser artista. Queria cantar ou trabalhar no mundo artístico. Ele tinha 22 anos.Porém, sua família queria, claro, casa-lo com alguém. Para completar, apesar de ele não ter mencionado o assunto, sua homossexualidade era evidente. Assim como o seu talento.
– “Vocês são de Mumbai, né? Tem como me arranjar um emprego em Mumbai?”
– “Não, Vinod…Mumbai não é para você. – respondeu minha amiga. “Você mora em uma cidade de 8000 habitantes e, chegando em Mumbai, as pessoas vão te enganar, te roubar…não é tão simples assim”, completou ela.
Sua decepção era visível, mas seu sonho era maior. Ele nos contou que recentemente um famoso canal de tv havia gravados umas cenas de novela em sua cidade e que ele e mais alguns moradores fizeram uma ponta. Ele mostrou orgulhoso as fotos com os artistas e com os figurinos de época.
Porém, confessou que a maior barreira era, sem dúvidas, sua família, já que sua mãe ameaçara se matar caso ele fosse embora de casa ( uma das chantagens mais frequentes feitas pelas mães indianas). E, parece que toda vez que este assunto vinha à tona, era um verdadeiro drama Bollywoodiano em sua casa.
Neste momento,não sabíamos bem o que dizer a ele. Mas, algo era evidente: Se desvencilhar de uma família indiana é algo dificílimo, uma tarefa quase que herculana e, que pode gerar muita dor e ódio naqueles que são deixados para trás. E nós já sabíamos disso. E, aqueles que um dia partem, dificilmente encontrarão um local de volta no seio familiar.
Este era o peso do dilema de Vinod. Ou ficava em seu vilarejo e casava-se com alguém escolhido pela família apenas para disfarçar sua homossexualidade e calar a boca do povo, ou fugia dali para viver seu sonho, mesmo correndo o risco de não poder voltar mais.
Infelizmente, não havia muita coisa que pudéssemos fazer por Vinod, a não ser, desejá-lo boa sorte, indepedente da decisão que ele fosse tomar. Apenas disse a ele que, se fosse para lutar por um sonho, essa era a hora e a idade certa. Pois depois, poderia ser tarde demais.
O fim de Vinod, nenhum de nós sabe. Mas, quem sabe, em uma próxima viagem à seu vilarejo, este artigo tenha uma continuação?
por Banjara
Adorei essa nova seção no blog!
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Obrigada, querida!!
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Muito bom o conto! Ansiosa para os próximos! Como sempre a televisão mexendo com a cabeça dos jovens haha, vc devia filma-lo cantando e compartilhar o vídeo no seu canal, vai que faz sucesso e cai nas graças de algum produtor q vai lá resgata-lo né!? (Acho q to mais sonhadora que o Vinod), também acho que ameaças de suicídio não é só características das mães indianas, mas dos filhos também kkkk, mesmo eu a milhares de quilômetros de distancia da Índia pude ser chantageada com a vida de um indiano, kkk para contornar a situação que me deixou com muita raiva eu disse que não queria falar mais com ele se continuasse a fazer esse tipo de chantagem, pois sendo eu cristã, creio que suicídio é o pior dos pecados que o levaria diretamente ao inferno, sem direito ao arrependimento, e eu não queria falar com um futuro habitante do inferno, e isso ofendia a mim e a minha crença, ai na hora ele começou a me pedir desculpas e que nunca mais ia fazer isso e que era só brincadeira, ai mamãe Claudia disse: Nossas vidas não é algo que possamos brincar! Se não respeita a sua própria vida não poderá respeitar a minha! kkkk acho engraçado que para manter um contato desse tipo é preciso ter uma paciência, tolerância, e jogo de cintura (mesmo quem não tenha cintura), mesmas qualidades que temos que ter para lidar com crianças, hehe.
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Oi, Claudia!! Pois eh…na hora eu estava sem bateria em ambos os telefones, porque tinha gravado muitos videos o dia todo. Ai,nao deu para filmar nosso amigo. Pois eh..esse negocio de suicidio tambem nao eh comigo, nao.Nao tenho paciencia e, eu acho que quem realmente se matar, nao manda recado. Beijos
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não mesmo com certeza não manda recado, vai e faz, não tenho paciência também, falando sobre isso se vc souber poderia fazer um post sobre a visão das religiões indianas sobre essa pratica o que eles acreditam que aconteça com as pessoas que se matam, (não só se matam, mas sobre outras praticas) se para eles é algo ruim ou bom, sei lá, falar o que é karma, vou pesquisar agora o que é karma. Beijos
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Eh verdade. Otimo assunto. Nunca tinha pensado nisso. Vou estudar e preparar algo a respeito.
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