Religião. Desde que a inventaram, o mundo nunca mais foi o mesmo. Na Índia, como vocês já sabem, a religião é a maior causa de brigas, disputas, morte e sofrimento. Curiosamente, é também o que atrai a maioria dos estrangeiros até aqui.
Hoje eu vivenciei um problema no meu prédio e, claro, me inspirei para escrever este post.
Eu tenho duas lixeiras: uma que fica na cozinha e onde vou jogando o lixo e, outra, que deixo do lado de fora da porta do apartamento, para colocar o lixo do dia para que possa ser coletado. Antes, eu não costumava colocar a tal lixeira do lado de fora, mas um dia esqueci de colocá-la para dentro e, no dia seguinte, alguém havia cuspido paan na minha lixeira. Para quem não sabe o que é tobacco paan, é aquele bando de ervas que eles mastigam e depois cospem aquele líquido vermelho que suja a cidade toda. Se você ja veio na Índia, você certamente deve ter visto.
Fiquei indignada no dia, pois quem teria sido a anta que assumiu que aquela lixeira era um local onde ele/ela poderia cuspir à vontade? Devido ao estado nojento da lixeira, não tive mais coragem de colocá-la dentro do meu apartamento novamente. Ela ficou direto, lá fora.
Porém, parece que isto estava incomodando a moradora da frente por demasiado. Ela e a moça que coleta lixo já tinham batido aqui umas duas vezes para me “dar bronca”, dizendo que a lixeira deveria ficar dentro de casa. Como não levo desaforo pra casa, ainda mais depois que me mudei pra Índia, onde você precisa se impor o tempo inteiro, eu disse que a lixeira era imunda e que eu não ia colocar dentro de casa. Elas insistiram, dizendo que eu deveria deixar dentro de casa e só colocar pra fora na hora que a moça que coleta o lixo batesse aqui em casa.
Discussão vai, discussão vem, eu ainda reclamei, dizendo que estava cuspindo na minha lixeira e que aquilo era um absurdo. A vizinha jurou de pés juntos que não cuspia lá e que não era ninguém da casa dela, porque lá ninguem usava estas coisas.
E, a lixeira continuou lá fora. Esta semana, rolou outro stress com a lixeira, mas a gota d’água foi hoje. A moça que coleta o lixo tocou aqui e meu marido abriu a porta. Ela pediu, novamente, para que deixassemos a lixeira dentro de casa, porque a vizinha estava reclamando. Meu marido usou o mesmo argumento que eu. Aí, a moça disse: -“Não….é que eles não querem a lixeira do lado de fora porque isso dá azar. ”
Meu marido, por segundos, ficou em silêncio, não acreditando no que estava ouvindo. Eu, tão pouco. Lixeira do lado de fora dá azar?? Essa mesma família é uma que reza lá no pátio do prédio todo dia, que durante o Navratri fazia reuniões de oração e não conseguíamos nem ouvir a TV, com aquela cantoria toda. Mas, até aí, tudo bem. Afinal, cada um com sua crença.
Já estávamos pensando em nos mudar deste prédio desde antes, sobretudo pela falta de boas maneiras dos moradores, que não cumprimentam ninguém ao entrar no elevador, constantemente deixam o elevador com defeito (não sei como conseguem) e ainda por cima, cospem na minha lixeira.
Não sou preconceituosa, mas se vocês vissem os moradores do prédio, vocês iam me dizer: “Juliana, muda daí agora mesmo!”.
Isso, claro, sem contar que a nossa rua é imunda e praticamente todo dia, eu me deparo com um rato. Morto ou vivo. Geralmente, morto. E, nesta mesma rua, as pessoas e crianças andam descalças. Nesta mesma rua, há um rio, ou melhor, algo que ja foi um rio, mas hoje é o depósito de lixo de todos os moradores. Eles fazem festa aqui no prédio jogam todos os pratos e restos no rio. No verão, é impossível deixar a janela aberta porque o rio fede demais.
Confesso que quando chegamos neste prédio, estávamos tão felizes por ter encontrado um prédio novo (o prédio só tem 3 anos), ainda mais após ter saído de um prédio cuja parede do apartamento caiu por causa das chuvas, que não percebemos os medonhos e imundos arredores da rua. O apartamento novo nos cegara para a realidade desta rua.
Estávamos atrasando nossa mudança justamente por preguiça, porque mudar de apartamento é sempre uma dor de cabeça. Mas, depois de hoje, eu tive certeza: Não posso viver em um lugar assim. Não tenho tempo e nem paciência para viver em um lugar onde uma lata de lixo causa polêmica.
Muitas saudades de nosso primeiro prédio, que era limpo, com pessoas educadas, que cumprimentavam os outros ao entrar no elevador. Faziam sim, suas comemorações religiosas, mas em momento algum a superstição pareceu ultrapassar o bom-senso.
Peço desculpas pelo desabafo, mas foi realmente dificil de engolir o que eu ouvi hoje. Mas, a lixeira vai continuar lá fora sim, até eu me mudar daqui. Vai pro inferno com suas superstições!
Um abraço e até a próxima!
por Banjara Soul
Vizinho é sempre vizinho!! Aqui no meu prédio mesmo são poucos os que me cumprimentam no elevador..mas sobre a superstição indiana, é de deixar qualquer pessoa sã maluquinha!!
Que tudo se resolva!
Beijos
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigada, minha amiga!!!Beijos
CurtirCurtir
Quando citou sobre o “paan” eu me lembrei do episódio que assistir do “aprontando na Índia” adoro esse seriado,ele explicada situações do dia a dia de um extrangeiro na Índia,mas com muito humor eu adorooo. Bjs …..e boa sorte.
CurtirCurtir
Julia, muda daí já
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigada pela forca, Mariel!! Ja conversei com meu esposo e este mes eh nosso ultimo la no apartamento. Um abraco.
CurtirCurtir
Ah não gente… Rato morto ou vivo é tudo de nojento! Só de pensar em leptose, peste bubônica me dá arrepio!
Engraçado que na cabeça da sua vizinha lixo do lado de fora da porta dá azar mas jogar lixo na calçada ou no Rio tá OK ne? Tem gente que diz amar a Deus mas não tem a mínima consideração em conservar oq Deus criou.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Quis dizer leptospirose.
CurtirCurtir
Falou tudo, Fabi!! To indignada com esse pessoal aqui do predio.
CurtirCurtir
Poxa vida que chato isso né!começando o ano bem,,afff,mas vizinhos na India ou no Brasil são todos iguais,RS,,,brincadeira e só pra descontrair Juliana.Então boa sorte em sua nova casa principalmente com os vizinhos.bjs
CurtirCurtido por 1 pessoa