Casamento com estrangeiro – E quando a família dele (a) é contra?

Introdução

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Muita gente, principalmente depois das novelas da Globo, começou a sonhar em casar com um árabe ou indiano. Elas acham que a vida vai se resumir a dançar dança do ventre ou engatar em uma sequência de passos de Bollywod. E que vao ser presenteadas de ouro e viver em um local no minimo, no estilo Taj Mahal. Por mais que a mulher brasileira tenha conquistado muita coisa no quesito profissional, ela ainda tem o sonho de Rapunzel. Essa é a verdade.

Recebo muitas mensagens de pessoas que perguntam sobre como o meu relacionamento começou, como foi, se a família aceitou e tal. Para falar a verdade, eu não gosto de expor minha vida particular na net como muitas o fazem, mas se eu vejo que a minha experiência de vida na Índia pode servir para alertar ou ajudar alguma pessoa, aí, sim, eu decido escrever. Claro que  cada um tem uma estória diferente para contar (graças a Deus, né ?) , mas que este post possa servir para algo na sua vida.

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O que sua família achou quando você disse que ia se casar com um estrangeiro? Bem, se sua família é brasileira, ela deve ter achado ótimo e deve ter recebido o noivo ou noiva com muito amor e carinho. Afinal, nós adoramos estrangeiros, não é mesmo?

Minha família também achou muito legal e já até esperavam por isso, já que eu morava no exterior há 6 anos.

Mas, e a família do noivo/noiva ? Bem, dependendo de onde seja o noivo/noiva, a coisa pode ficar bem complicada e muito difícil para nossa vã filosofia tupiniquim compreender.

” – Como assim não gostaram de você? Minha filha é linda! Você é o bem mais precioso da mamãe !Eles são uns bobos!” – foram as palavras da minha mãe quando contei a ela que algumas pessoas da família do meu esposo não tinham digerido bem a nossa união.

Sim, uma reação típica de uma mãe brasileirissima como a minha.

O intuito deste post não é frustrar os sonhos de nenhuma das “Jades e Mayas” de plantão, mas sim, alerta-las para algo que é muito comum quando o noivo e sua família são de países com uma cultura antiquíssima (como no meu caso) ou com preceitos religiosos altamente irraigados.

Para quem não sabe, na Índia, por exemplo, a maioria dos casamentos ainda são arranjados. Prova maior e mais recente disso é o casamento do famoso ator Shahid Kapoor, que aconteceu esta semana. Apesar de ter namorado algumas das celebridades mais belas de Bollywood, na hora de casar, seu pai arranjou uma noiva paraele. Uma estudante, de uma família tradicional do norte da Índia, como manda a tradição. Agora, pense comigo: Se o Shahid, que é o Shahid casou com uma indiana de determinada casta e linhagem, imagine os outros indianos que são meros mortais?

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A ênfase neste post, como sempre, será nos indianos, mas você pode sempre substituir pelas palavras ẗurco, árabe, marroquino, sírio, etc.

Um dos dias mais temidos pelas brasileiras e estrangeiras que namoram indianos e as outras etnias que citei acima, é aquele dia no qual ela será apresentada à família dele. A tão temida sogra! Será que ela vai aceitar? E o pai? E os irmãos? E os primos? E o papagaio? E os vizinhos? Não, nao estou exagerando! Em povos oriundos de culturas tribais, a opinião de sua ẗribo” conta muuuito! No Brasil, se o vizinho vem se meter na sua vida, você pode manda-lo para aquele lugar. Mas, não é assim na Ásia, muito menos neste lado de cá.

O primeiro encontro

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A 1a vez que vi a família do meu esposo, foi pela câmera, através do Skype, já que naquela época eu ainda morava no Japão. E, estávamos apenas planejando casar. O primeiro encontro pessoal, aconteceu em dezembro  daquele ano, quando eu passaria 20 dias de férias na Índia. Após viajarmos bastantepelo Norte da Índia, finalmente, na última semana, fomos para a casa dele, em Uttar Pradesh. Pergunte para qualquer indiano sobre Uttar Pradesg (que não seja de la, e claro!) e ele vai, certamente, ter algo a te dizer. Chegamos na casa já à noite e, estavam todos nos esperando.

Como cumprimentar?

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Antes de ir, perguntei ao meu futuro esposo como eu deveria cumprimentar os pais dele. Ele disse que, geralmente as pessoas tocavam os pés deles, mas que se eu me sentisse mal em fazer isso, que eu poderia só dizer “Namaste” e dar um abraço neles. Mas, eu sempre penso ” Em Roma, como os romanos” e, decidi tocar os pés dos pais dele. Minha sogra, assim que cheguei e toquei os pés dela, me puxou para cima e me deu um abraço bem apertado. Ela ficou emocionada e até chorou. Em seguida, recebi um beijinho carinhoso do meu sobrinho, que na época tinha 1 ano e pouco. Depois, cumprimentei minha cunhada. Dos homens, se não estou enganada, só meu cunhado estava na sala e o cumprimentei com um Namaste básico e um sorriso. O sogro, eu acho que estava no quarto e não veio. Achei estranho aqui, mas já poderia imaginar o que estava prestes a acontecer.

Havia trazido presente para todos, mas fiquei surpresa com a reação deles ao receber um presente, já que era bem diferente da reação do meu próprio marido (noivo, na época) e, das outras pessoas que eu havia encontrado até hoje. Ninguém disse ” Thank you” ou ” Dhanyavaad“. Hoje eu sei que só mesmo famílias anglo-indianas é que têm o hábito de agradecer e que em Hindi, mesmo, quase ninguém usa. Mas, confesso a vocês que fiquei chocada e achei que eles não tivessem gostado dos presentes.

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Lembro que estava muito frio, quase 0 grau e fui tomar banho. Depois, me mandaram ficar no quarto que pertencia ao meu noivo. Achei a mãe dele moderníssima e lembro que perguntei: – “Onde eu vou dormir?” Ele disse: – “Aqui, no meu quarto, oras! – Mas…e você? “- “Aqui, também“.

Ao ver minha cara de espanto, ele disse: – “Se minha mãe te colocou pra dormir aqui, que problema tem? Ela não vive no século passado.

Bom, tenho certeza que se fosse na minha casa no Rio, ele jamais dormiria comigo antes de ser casado. Essa é a lei lá de casa e sempre foi. Mas, a mãe dele estava mesmo me surpreendendo! Mas, para ser sincera, ela deve ter pensado que já que sou estrangeira, isso deve ser comum para mim e não quis me contrariar. Não sei porque, mas tenho quase certeza de que a segunda opção é a correta.

Depois, me mandaram ficar sentada na cama. Aí, a sogra e a cunhada trouxeram a janta para mim. Achei estranho. Achei que eu fosse comer com eles. Meu marido deve ter dado alguma desculpa do tipo: – “Eles comem em horários diferentes“. Mas, aquilo ali já me causou uma estranheza.

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No dia seguinte, o mesmo ritual: seja café da manhã, almoço ou lanche, era sempre eu ali, na cama. Me enchiam de comida, é verdade, mas eu não andava pela casa. Durante o dia, quando os homens não estavam na casa, minha sogra me chamava e eu ficava na sala. Mas, eles não assistem muita TV e não tinha nada para fazer. Minha distração era brincar com meu sobrinho. Ele sim, me aceitou desde o primeiro momento que me vira pela câmera. Desde o primeiro dia, começou a mandar beijinhos pela câmera e a me chamar de ” chachi” (titia). Pensei que ele fosse dado assim, mas depois que o conheci, vi que ele não ia com ninguém. Mas, comigo, ele vinha e ainda me chamava para brincar com ele. Simplesmente uma graça!

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Foi ali, também, que eu descobri que precisava usar um véu 24/7 na frente dos mais velhos e dos homens, também (incluindo os homens da casa, diferente do Islã). Meu marido nunca fez questão que eu usasse o véu, mas, na casa dos pais dele é outra lei vigente. Lá, ele também não fuma e nem bebe, coisa que ele faz diariamente por aqui, Também não podemos comer comida não vegetariana. Só comida vegetariana, excluindo o ovo, já que na casa dele, ninguém come ovo. Mas, isso foi o de menos, na minha opinião, já que estava  achando aquela comida toda uma delícia!!

Porém, os dias vinham e iam e, eu nunca via meu sogro. Talvez eu tenha visto na 1a noite, quando cheguei. Sim, acho que alguém o chamou, toquei os pés dele e depois, não o vi mais.

Os dias foram se passando e. além de extremamente entediada e morrendo de frio, comecei a me sentir mal. Não fisicamente, mas emocionalmente. Comecei a sentir algo estranho no ar.

Meu esposo corria pra cima e pra baixo, querendo juntar todos os documentos para nos casarmos dentre aqueles 20 dias. Enquanto ele saía e corria atrás da papelada, eu ficava lá, achando tudo muito, muito chato, para dizer a verdade. Minha diversão era assistir os vídeos musicais de Bollywood e brincar com meu sobrinho. Me ofereci para ajudar diversas vezes, mas elas não deixaram de jeito nenhum. Queria ir com meu noivo para cima e pra baixo ver as papeladas, queria participar também, mas ele estava indo com um tio e, isso não era assunto de mulher, na concepção deles. Mas, isso eu só descobri depois, já morando aqui, porque na época, isso nem me passou pela cabeça.

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E eu seguia lá no quarto. De vez em quando, minha sogra aparecia com um lenço e cobria minha cabeça. Era alguma visita chegando para me ver. Lembro do dia em que uma tia mais velha veio me visitar. Aquela tia parecia um anjo. Era doce e me elogiou muito. Se eu entendi o que ela disse? Só umas 3 palavras, tipo: sundar  (bonita) gori (branca) khush hoon ( estou feliz). Eu aproveitava o tempo também, para ler os 3 livrinhos sobre Hindi que havia comprado. E, com eles, tentava me comunicar com a sogra, com a cunhada e tia.

Mas, nem sinal do sogro. Um tio também veio me ver e aliás, ele ajudou muito no nosso casamento, mas….cade o sogro?

Porém. como toda novela, a coisa tem que ficar mais dramática. Minha sogra e meu noivo discutiam diarimente. Eles começavam conversando normalmente, de repente ela começava a chorar, meu noivo começava a chorar e…eu ficava sem entender o que estava acontcendo.Hoje eu já seria capaz de entender a maior parte da conversa, mas naquela época, não dava. Perguntei ao meu noivo e, ele simplesmente disse: – “É que ela está chorando porque acha que você não vai aguentar a vida aqui. Ela acha que você nunca vai se acostumar e está preocupada com o futuro do nosso casamento.

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Mas, hoje eu sei que não era só isso. Tinha mais coisa na jogada. O meu sogro não tinha ido com a minha cara. Na verdade. até momentos antes de eu chegar, ele estava eufórico e contente. Mas, um telefonema mudara tudo: um dos irmãos espírito de porco que ele tem, ligou simplesmente para fazer intriga. Disse que eu ia trazer vergonha para a família, que estrangeira não sabe se vestir, que mostra o corpo, que se separa do marido em menos de 1 ano, que não respeita os sogros, etc. Enfim…um verdadeiro mensageiro do capeta!!!!

Mas, vocês sabem que os indianos são extremamente influenciáveis pelas famílias. Portanto, o que meu sogro fez? Concordou com o irmão e não quis nem olhar na minha cara. Uma semana se passou e, nem na hora de eu ir embora não o vi.

Mas, ter passado uma semana com eles me deu a certeza de duas coisas:

1. Eu jamais me adaptaria aquela vida monotona e não moraria naquela casa jamais.

2. Meu noivo estava enfrentando a todos pelo nosso casamento. E isso era o que bastava.

Mas, sabia que, mesmo casando com ele, a gente nao moraria com os sogros, porque ele morava e trabalhava em outra cidade. Portanto, teriamos nossa casa. Esse ponto é crucial para o casamento dar certo!

Conseguimos juntar toda a papelada e dar entrada no pedido de casamento exatamente no dia que eu estava indo embora do país. Porém, quando cheguei ao Japão, meu noivo me liga desolado, dizendo que nosso pedido havia sido rejeitado, pois eu deveria estar residindo na India por, no mínimo, 30 dias. Fica aí a dica para vocês, futuras esposas de indianos.

umrao

Acham que termina por aí? Como todo filme de Bollywood, precisa ter um intervalo no meio dos 2 atos. Portanto, aqui acaba o 1o ato. Fique ligado ligado que vem mais drama por ai!

Um abraco e ate a próxima!

por Banjara Soul

 

 

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Publicado por Banjara Soul

Este blog é para compartilhar um pouco das estórias e memórias que acumulei ao longo de 13 anos no incrível continente chamado Ásia. Hoje, de volta ao Brasil, mas com a Ásia no coração, continuo compartilhando informações do continente com vocês!

21 comentários em “Casamento com estrangeiro – E quando a família dele (a) é contra?

  1. Ancioso pra ver a segunda parte,tenho me relacionado com um rapaz de chandiargh na india mais acho que não vai vingar não. acho que ele tem uma namorada mais eu vi alguns comentários nas postagens falando algo eu não entendo muito não posso nem afirma ele nega.terminei com ele mais ele insiste.sei que depois disso peço que ele não me enganasse bom ele está indiferente.Mais ausente e eu com minha experiência disse pra ele que estou indo a india em breve para visita lo. E ele p aresce asuatado fica me perguntando se a verdade eu digo que sim.e ele casa vez mais sa ausents e eu do deixando ele vem a vontade pra ver onde ele vai chegar e eu vou mesmo independente de estar com ele ou não pra conhecer a india.ele nunca passou um dia sem falar comigo e hj passou.eu estava gostando muito dele mais estou analisando a atitude dele por que acho que ele fe bem com casamento arranjador não tem coragem pra me falar ai como confirmei minha viagem ele ta querendo dr sair. Tô gostando mais não sou de rastrear aos pés de nehumm homem mesmo assim ainda vou conhecer a india se Deus quiser se não for ele pode ser outro.

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    1. Bom, acho que a reacao dele com sua declaracao de que vira a India ja diz tudo: ele ficou assustado. O normal seria ele ficar muito feliz e comecar a planejar a viagem contigo. Mas, isso tambem nao quer dizer nada, porque tem muito homem indiano casado envolvido com brasileira, que deixa a mulher em casa, diz que vai para viagens de negocios e leva a brasileira para Goa, onde ela pode usar um biquini, beber a vontade, etc. Eh isso ai: venha a India independente do fato de encontra-lo ou nao. A India eh um pais que todo mundo deveria ver com os proprios olhos uma vez na vida, porque eh outro planeta dentro do nosso. Um abraco.

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  2. Ooi Juliana 🙂 nossa outro dia um indiano veio me adicionar no facebook e eu aceitei. Ai ele do nada já me manda uma mensagem assim: you are so hot show me your boobs you are cool girl. Morri de raiva e xinguei ele de tudo quanto é nome. Odeio essa visão podre de alguns indianos de acharem que brasileiras são mulheres fáceis e que não merecem ser tratadas com respeito.

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    1. Que cara de pau, Natalia!!!Infelizmente, tem muitos assim. Quando eles comecarem com estas palhacadas, fala assim” “why dont you ask your mother to show her boobs on screen!!??” Porque, tocou no assunto “mae”, eles ficam desesperados!Manda esta da proxima vez!Beijos

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  3. adorei,mas ja comecei a entender algumas coisas graças a voce
    Quando Rishi me falou sobre eu estar la para contar a familia,nem acreditei,realmente a diferença é imensa chega a ser sem noção para nós,mas se voce for ver pelo outro lado,é uma cultura bonita,de respeito….quero ver o fim disso ,mas tudo deve ter valido a pena ……um bjo Juliana

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  4. Adorei! Acho legal essa troca de experiências porque cada pessoa tem uma história pra contar e a gente aprende muito com isso.

    Essa é uma das perguntas que mais me fazem também, como é meu relacionamento com a família, pensei em escrever sobre isso mas como vivo no Brasil não tenho muita coisa pra contar então acabo postergando! Rsrs

    Beijos e ansiosa para a 2 parte!!

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  5. Nossa que guerreira.. é muito amor né
    Ja falei com a familia dele por Skype mas sou apenas a amiga brasileira.. como ele é filho unico a situação não é facil..
    Quando ele chegar aqui a gente ve o que acontece rs
    Estou ansiosa para a segunda parte..

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  6. Estou vivendo este drama… mas, acontece o contrário, a família dele aceitou, na verdade, querem que ele case de qualquer jeito, com brasileira ou com indiana, mas que case! Minha família é totalmente contra, mesmo eu conhecendo ele a anos (7 anos). Dizem que sou louca, que estou indo para um lugar desconhecido e longe de todos, que uma mulher não pode ficar longe da família, que vou estranhar a Índia, e tals… Enfim, dramalhão total. 😛

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    1. Obrigada por compartilhar sua estoria conosco! Por acaso, sua familia eh japonesa? So perguntei por causa do nome que voce usou no comentario (Yukiyuki). Desejo um otimo desfecho na sua estoria. Um abraco!

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      1. Não sou japonesa, mas, além de amar a terra do sol nascente, minha família tem ligação com o Japão. Tenho tia casada lá, e primos, primas residentes e por aí vai… Abraços

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