Pois é, gente. Século XXI, as coisas e a mente de muitas pessoas têm se modernizado, mas não quando a questão é menstruação e absorvente. Bem, pelo menos em muitas partes da Ásia, eu posso garantir.
Outro dia eu me peguei fazendo algo impensável. Impensável, se eu estivesse ainda morando no Brasil e nunca tivesse morado na Ásia. Pois é. Como toda mulher normal e saudável, eu tenho períodos mestruais. Sim,e crises de TPM também, às vezes. E o que fazemos quando estamos passando pelo período menstrual? Compramos absorventes de acordo com nosso fluxo, certo? Você vai ao supermercado, drogaria, Lojas Americanas ou qualquer outro estabelecimento, pega o seu absorvente da marca predileta (ou aquele em promoção) e leva ao caixa. Sem frescuras, você coloca o pacote sobre o caixa. Talvez você tenha comprado alguns chocolates (sim, são muito importantes nesta fase) e mais alguma outra coisa. Todos estão lá, no caixa. A única coisa que falta é você pagar por eles. O caixa, por sinal, é um rapaz jovem, mas tanto o absorvente como o chocolate são a mesma coisa para ele. Ele quer mais é que você pague logo e saia dali, para agilizar o negócio. Alguém coloca o absorvente, chocolate e tudo que você comprou na mesma sacola e tchau e benção!
É assim que funciona no Brasil, não é? Sim, super normal e eu NUNCA me senti constrangida por comprar um absorvente. Era até comum perguntar para algum atendente se eles não tinham o Sempre-Livre noturno e com abas. Sim, com abas.
Mas, a coisa mudou. Ou melhor, eu mudei de país. Primeira parada: Japão. No Japão, claro (dã!!) as mulheres também têm períodos menstruais. Vão aos mesmos estabelecimentos para comprar seus absorventes. Mas, há uma diferença, a qual eu percebi assim que cheguei lá. Acostumada com o descaso brasileiro dado ao absorvente e a naturalidade como ele sempre foi tratado no nosso país, eu peguei o pacote e dirigi-me ao caixa, como de costume. Haviam outros produtos na minha cesta, mas o absorvente foi o primeiro produto a ser retirado de lá, passado na maquininha e, devidamente embalado em mais uma outra embalagem de papel de pão, onde não dá para ver o conteúdo e, depois deste processo, então, colocado na sacola plástica. Foi então que eu percebi que aquele ato poderia ser vergonhoso. Nunca me passou pela cabeça que algo natural pudesse ser tão vergonhoso. Bem, foi quase a mesma coisa o que as muitas religiões fizeram com o sexo, né? Algo que deveria ser natural, virou um tabu e algo pecaminoso.
Mas, após uns meses vivendo no Japão e vendo a reação das pessoas com o absorvente, aquilo começou a se transformar em uma grande verdade para mim e, eu também comecei a sentir vergonha do coitado do Sempre-Livre.
O destino então, me trouxe para a Índia. Bem, dispensa comentários, né? Absorvente e períodos menstruais também são considerados quase que tabus por aqui. Mas, como eu já estava acostumada com o estilo japa da coisa, não me choquei muito e continuei achando tudo muito natural. Até que outro dia, fui numa farmácia com meu esposo. Aí, me lembrei que precisava comprar absorvente. Mas, as farmácias indianas, principalmente as de bairro, são pequenas e os produtos não ficam ali expostos para que você possa escolher e pegar o que quiser. Você tem que se dirigir diretamente ao atendente. Em 99% dos casos, o atendente será do sexo masculino.
Eu queria um absorvente. Mas na hora que pensei em pedir, travou tudo!!! Mil pensamentos vieram à minha mente: – “Como posso pedir um absorvente para ele? O que ele vai pensar? E, meu marido está aqui. Não vai pegar bem eu chegar em outro homem e pedir um absorvente”.– Enfim, a crise começou. Bem, antes que eu demorasse mais, eu pedi ao meu esposo: – “Pede a ele um Always noturno com abas.”. Pedido feito, absorvente pego e agora, também a embalagem de papel de pão.
Foi aí que me inspirei a escrever este post. Porque um absorvente que era algo tão comum para mim no Brasil, depois de ter me mudado para a Ásia, tornou-se algo digno de vergonha? Porque algo natural deveria ser considerado sujo?
Não vou nem entrar no quesito religioso, já que a maioria das religiões, especialmente monoteístas consideram a menstruação como algo impuro e as mulheres devem ser mantidas longe de todos, principalmente dos locais considerados PUROS, como templos e mesquitas. Ridículo, não? Mais ridículo ainda foi a minha cena na farmácia.
Mas, pasmem! As coisas já começam a mudar aqui pela Índia também! Uma famosa empresa de absorventes começou uma campanha chamada: Toquei no picles! Não entendeu nada??
Este título vem da antiga crença (ainda bastante praticada na Índia, sobretudo nas regiões rurais e vilarejos) que diz que se uma mulher estiver menstruando e tocar em algum alimento, o mesmo se estragará. E, foi assim que surgiu a campanha e esse comercial que é super interessante! Vamos ver!
O tema menstruação e absorvente fizeram a jovem atriz Parineeti Chopra ficar irritada com os repórteres. Vejam aqui o vídeo dela dando um chega pra lá neles!
Pois é, gente. É impressionante como um ambiente ou a cultura de um local pode mudar a nossa própria mentalidade. Mas, fiquei pensando: Estou indo pro Brasil amanhã. Vou ficar 1 mês lá e, provavelmente, comprar absorventes. Como será a minha reação depois de quase 8 anos???Será que eu vou sentir vergonha na hora de pagar ou será que vou agir normalmente como antes?
Eu acho que já sei a resposta: Provavelmente, vou agir como se fosse a coisa mais natural do mundo. Até porque o é. Isso prova que nós não mudamos completamente, mas apenas nos adaptamos às situações e procurarmos nos adequar à cultura local para sermos aceitos. O ser humano e sua eterna busca pela aceitação. Mudamos de país, mudamod de língua, mudamos de roupa, mudamos de cabelo, mas continuamos os mesmos!
Termino este post, homenageando o indiano (sim, um homem!) que revolucionou a estória do absorvente no país dele! Arunachalam Muruganantham!
Um abraço e até a próxima!!!
by Tabibito
Ju, quando você contou da sua experiência no Japão eu me lembrei da minha… Realmente, sempre embalavam o pacote de absorventes naquele papel de pão!
Eu nunca pensei em menstruação como algo impuro, realmente nunca vi problema em comprar absorvente na farmácia ou no supermercado que seja. E tendo a criação que tive, nunca vi problemas sequer em comprar preservativos. Aí entra não só a diferença cultural no âmbito mais geral, mas também no mais particular, que é a família.
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Oi, Eri chan!Que honra ter sua visita aqui! Eh verdade. Nossa familia eh que forma nosso carater e nossos pre-conceitos. Seja no Brasil ou na India, espero que meus filhos nao vejam como impuro aquilo que eh natural e comum a todo ser humano. Um grande abraco!
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