A notícia correu o mundo e você já deve ter ouvido ou visto em algum lugar. Sabemos que o Japão passa por um momento delicado em sua economia e uma de suas maiores preocupações é o fato de terem pouquíssimos jovens ou nascimentos no país.Ano passado, uma das poucas vozes femininas no parlamento japonês, sugeriu que o Japão proibisse o aborto, legal naquele país desde a década de 60, pois assim, as crianças teriam que vir ao mundo. Isso, claro, foi altamente condenado e criticado pela maioria das pessoas, pois, segundo eles, traria mais problemas do que soluções. Quase 1 ano depois, a estória agora é outra: Shimoura Ayaka, de 35 anos e membro do parlamento levantou a voz para opinar sobre o problema demográfico de seu país, dizendo que o Japão precisava ter melhores políticas de apoio ás mulheres que queriam ser mães.Porém, para o choque da própria Shimoura Ayaka e do mundo inteiro, um grupo de políticos presentes começaram a gritar: – Você não pode ter filhos?? – Voce é quem deveria casar logo!, entre outras barbaridades, que fizeram a moça cair em prantos. Mas, mesmo assim, em lágrimas, ela continuou, bravamente o discurso.
Isto, claro, em nada me choca, pois vivi lá um total de 7 anos e sei bem como é a mentalidade de muitos políticos e homens no país. Até bem recente, o comum era que as mulheres largassem o emprego ao se casar ou quando tinham filhos. E, para muitas, ser dona de casa era um status, pois significava que ela tinha casado com um cara bem de vida, que poderia sustentá-la. Porém, muita coisa mudou nos pultimos 20 anos no Japão e, hoje, as mulheres se redescobriram e viram que podem ser muito felizes sem ter virar donas de casa ou mães. E isso, claro, afetou o ego masculino japonês. Até hoje, em muitos lugares, incluindo órgãos públicos, a mulher não tem o direito de voltar ao posto após a maternidade. Na verdade, ela até tem, mas provavelmente não na mesma posição. Voltará em alguma posição mais baixa ou menos privilegiada, afetando diretamente o seu ego como profissional e levando-a, rapidamente, a pedir demissão.
No local onde eu trabalhava no Japão, o direito a licença maternidade foi concedida exatamente no ano que eu entrei na organização. Algumas das colegas queriam ter filhos, mas estavam adiando o projeto, por medo de serem mandadas embora ou substituídas. Eu vi aquilo ali como uma grande evolução em uma sociedade que se diz moderníssima, mas na qual os seus políticos ainda possuem pensamentos machistas e racistas, no que diz respeito a imigrantes.
O bom disso tudo é que o problema veio à tona, caiu na mídia internacional que, com certeza, não vai deixar passar em branco.
E parabéns a srta. Shiomura Ayaka por ter ido até o fim, mesmo sendo agredida verbalmente. Com certeza, as mulheres japonesas e de todo o mundo agradecem.
by Tabibito