“Eu decidi vir à Índia porque aqui tem milhares de deuses como no meu país, e não só um”
Essa foi a resposta de uma japonesa quando lhe perguntei porque ela decidiu vir trabalhar na Índia. E, confesso que a resposta me surpreendeu um pouco.
Segundo a moça com a qual conversei, ela disse que estava querendo trabalhar no exterior e, dentre as opções, tinha alguns países da Europa, alguns do Oriente Médio e a Índia. Ir à Europa e morar lá é o sonho de 9 entrre 10 japoneses, mas nossa coleguinha decidiu não arriscar trabalhar por lá porque o índice de desemprego anda altíssimo por aquelas bandas e, se nem os nativos têm emprego, que dirá os estrangeiros!!
Sendo assim, a Europa caiu fora da competição. Sobrou Oriente Médio. Mas, para ela, Oriente Médio= Allah= monoteísmo, isso, claro, sem contar as restrições relacionadas ao sexo feminino sobre as quais eu não vou discutir aqui, pois é o ponto de vista da minha colega.
Então, no final, ela diz que sobrou a Índia, pois estava aberta a receber estrangeiros, pagava bem , além de Mumbai ser uma megalópole. E, claro, ela mencionou a frase a qual me inspirou a escrever este post: -“ Na Índia tem muitos deuses, assim como no Japão.”
Depois, ela continuou: – “Não entendo até hoje como alguém pode adorar um só Deus. “
Então, eu disse: – “Pois é…para quem adora um só Deus, o difícil é entender como alguém pode adorar tantos deuses!!”
Bem, nisso, demos risada, tomamos sorvete e mudamos de assunto.
Porém, esta frase ficou martelando na minha mente.
Argumentos para adorar um só Deus e entender a questão sob uma perspectiva monoteísta é bem simples. Porém, talvez, um tanto egoísta.
Por isso queria saber: “Como será que um politeísta encara o fato de ter que adorar uma só criatura?”
Lembro de um outro comentário de uma amiga (também japonesa) :
“Eu gosto muito dos deuses indianos. Eles são tão coloridos, tão vívidos! Mas os deuses da igreja católica…nossa!Eles dão medo, passam uma coisa muito negativa.”
Mas, para um cristão ou qualquer outro monoteísta,é exatamente o contrário: os deuses indianos ou outros deuses são um pouco difíceis de entender, sem contar que para muitos, eles têm uma aparência um tanto quanto assustadora.
Para mim, os deuses japoneses é que têm uma aparência assustadora e não passam paz alguma, mas cada um na sua.
Outro fato que os politeístas que conheço consideram muito estranho, é o de ter um deus, extremamente patriarcal ditando regras e colocando rédeas nas suas criaturas.
Se pensarmos sob o ângulo deles, eles não estao totalmente errados. Afinal, nunca vi Ganesha, Shiva, Durga ou seja lá quem for se metendo na vida de alguém.
Para os monoteístas é indigesto ver o povo oferecendo doces, frutas, leite e muito mais guloseimas para as estátuas, já que o deus dos monoteístas é onipotente e não precisa de comida. Afinal, na Bíblia e no Quran não há relatos sobre o fato de deus sentir fome. Talvez você esteja pensando: – “Aaahn…mas Jesus sentiu fome!”
Claro!Ali, segundo a crença cristã, ele estava na forma humana e ainda não tinha ascendido aos céus.
Para tentar entender e explicar como é ver o mundo sob uma perspectiva politeísta, acho que passar o resto da minha vida aqui na Índia ainda não será suficiente.
Deixando bem claro, o propósito deste post não é levantar nenhuma discussão religiosa, mas sim, mostrar que muitas vezes enxergamos o mundo sob uma só perspectiva, a qual insistimos ser a correta, mas a qual nem sempre é.
Para mim, o que vale é: Não importa se você adora 1, 2 ou 1000 deuses. O importante é que fazer o bem ao próximo é ensinado em todas as religiões.
Um abraço e até a próxima!
by Tabibito
Post muito interessante 🙂
CurtirCurtir
Obrigada, Star!
CurtirCurtir