Mumbai. O auto-ricksaw pára em um dos milhares de sinais de trânsito. Um pequeno grupo de mulheres de sari se aproxima. Um delas coloca a cabeça para dentro do carro e, de repente, você percebe que elas não são simples mulheres. Para quem não conhece e nunca foi abordado por elas, diria que são apenas um bando de travestis. Para quem conhece, elas são mais do que isso. São lendas vidas, semi-deusas e vivem envoltas em um mito: São as famosas hijras.
Uma delas chega até o veículo que estou e sorri para mim. Eu sorrio de volta. Então, ela diz: – “Você é muito, muito bonita mesmo”. Bem, se não são semi-deusas, pelo menos sabem agradar e são ótimas de papo! Eu agradeço o elogio e a elogio de volta. Por mim, ficaria nisso até o sinal abrir e o carro partir. Porém, a pessoa que estava comigo saca um dinheiro do bolso e me manda dar para a hijra, dizendo o seguinte: – “Toma, dá este dinheiro pra ela. Elas abençoam!”. Aquilo me intrigou. Ainda mais na Índia, numa sociedade tão machista. Aquele gesto e comentário me inspiraram a descobrir quem seriam elas. Quem seriam as hijras?
As hijras têm mais de 4000 anos de existência. Lendas antigas relatam as hijras com poderes especiais para trazer sorte e fertilidade. Elas também estão ligadas aos antigos eunucos. Eunucos ou não, a verdade é que hoje, na atual Índia, as hijras são algo a ser temido. Ninguém quer esbarrar em uma delas, cruzar os olhares ou ser amaldiçoado.
Mas, também, devido à fama dos poderes sobrenaturais que existiriam nestas mulheres, muitas pessoas as convidam para ocasiões como nascimento de crianças, casamentos e outros eventos familares, para que possam,assim, receber delas, a bênção. Se elas realmente têm todo esse poder, então tô bem na fita!-pensei eu ao ler vários artigos para preparar este post.
A comunidade da hijras possui um complexo sistema de comunicação. Primeiro, uma informa à outra sobre os eventos na vizinhança. Mal um bebê nasce em uma casa e já se pode ouvir o barulho das pulseiras das hijras. Elas cantam e permanecem do lado de fora até que a mãe da criança as permita entrar e ver o bebê. Assim que elas abençoam a criança, uma exorbitante quantia é cobrada. Essa inspeção das hijras nas casas onde há recém-nascidos têm também outra explicação: Em ocasiões mais raras, quando um bebê hermafrodita ou sem genitália nasce, elas insistem que o bebê seja dado a elas. Geralmente, as famílias, para evitar a humilhação e a vergonha na sociedade, permitem que o bebê seja levado pelas hijras para crescer em seus guetos.O que acontece nos guetos, até hoje, quase ninguém sabe.

Na verdade, a maioria das pessoas não têm noção de como alguém se torna hijra. Alguns acreditam que elas nascem como homens, mas sem a genitália masculina. Outros dizem que eles são homens “de verdade”, mas que foram castrados na juventude. Nascer eunuco é algo muito raro. E, muitas vezes, na juventude, as castração nem sempre é forçada. A tal “operação”, como as hijras chamam o evento, é motivo de grande celebração na comunidade, com muita música, dança e a presença do chefe da comunidade.
Há diversas visões sobre o processo de castração, mas uma prática comum, parece ser o isolamento do indivíduo em um local e uma alimentação à base de leite e ópio, para deixá-lo em permanente estado de intoxicação. No dia considerado astrologicamente favorável, o Guru vem, o menino então é colocado deitado numa superfície dura e uma corda é amarrada em volta de seus testículos, bem forte, para interromper o fluxo de sangue.
Vários outros “eunucos” o seguram, enquanto uma afiada faca corta fora pênis e testículos, de uma só vez.
Uma pequena peça de metal ou madeira é inserida na ferida para evitar o total fechamento e deixar passagem para a urina.
Além de óleo quente, várias ervas são aplicadas na ferida para ajudar na cicatrização.
Outras comunidades, entretanto, não consideram o processo completo até que o garoto sente numa pedra bem áspera e seja arrastado sobre ela até sangrar pelo ânus.Este sangramento seria considerado o sinal da 1ª menstruação e só assim, a iniciação estaria completa.
Depois disso, eles aprendem os costumem e tradições da comunidade aos pés do Guru. Os outros irmãos hijras adotam e cuidam dele até que ele se sinta seguro para bater as asas.
Continua no próximo post
by Tabibito.
Gostei muito do seu post (tanto a parte , quanto a 2)!
Gostaria de saber qual a de usada imagem acima. Seria Parvati (Durga)?
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Ola, Veronica! Nao, esta deusa nao eh a Parvati, mas a Bahuchara Mata. Um abraco.
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Vivendo e aprendendo meu Deus, interessante porém absurdo, soube por um noticiário sobre os homens ratos do Paquistão, que são deficientes que saem nas ruas e lhe dão esmolas acreditando que serão abençoados mas quase todo o dinheiro fica para a igreja responsável pela lenda, e eles são,adotados por familias simplesmente para fazee uso do dinheiro, e cada coisa, e esses gurus são os mesmos gurus sikh? Parabéns pelo post, bjs.
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OI, Claudia!!Olha, nunca ouvi falar dos homens ratos do Paquistao, mas nao me choca muito, pois este tipo de coisa tambem eh comum aqui na India. Muitos dos mendigos em Mumbai tem apartamentos em areas nobres da cidade, onde um trabalhador assalariado jamais poderia comprar!!Nao sei se voce ja assistiu aquele filme “Quero ser milionario” (acho que eh esse o titulo em portugues. Em ingles eh: Slumdog Millionaire). O filme trata desse assunto. E, voce me perguntou dos sikhs, ne? Nao…de forma alguma. Os sikhs sao um povo extremamente trabalhador e, na religiao deles eh proibido mendigar. Eu nunca vi um mendigo sikh. E, os sikhs sao uma das poucas religioes no mundo que oferece comida de graca aos necessitados. Todos os dias, nos seus templos, uma fila de pessoas se forma, pois eles oferecem refeicao gratuita para a populacao menos privilegiada. Eh bem interessante. Um abraco!
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Obrigada por responder, vou procurar assistir este filme, deve interessante, mas essa de mendingo rico não é longe da realidade do Brasil não, vim morar em uma cidade do interior do Ceará e eu sou de São Paulo e aqui também fiquei sabendo que as pedintes da cidade tem casa, vida estável e filhos na faculdade, e as diferenças culturais mesmo para mim que veio de São Paulo que é tão diversificado é bem grande imagino na Índia onde tudo é extremo! Perguntei sobre os gurus pq já li sobre os Sikh e achei interessante e alguns pontos semelhantes ao Cristianismo em relação a caridade, a não mendingar, a um Deus único e sem forma, ai na minha ignorância achei q só os Sikh tinha guru kkk, obrigada pelo esclarecimento.
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Gostei muito do post 🙂
As hijras apareceram na nossa casa depois no nosso casamento a dançar e a pedir dinheiro, e nao foi pouco nao! Ahah
Nos ja sabíamos que elas vinham e quanto estavam a pedir, se nao as recebecemos traria má sorte, nao se pode dizer nao a uma hijra. Isto foi o que me disseram 🙂
Beijo
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Obrigada pela visita, Claudia!Noossa!Então vocês tiveram a ilustre visita das hijras?Que interessante!Obrigada por compartilhar a sua experiência. Um abraço.
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