Quando você é novo no trabalho, com certeza tem muitas coisas para aprender. No meu caso, nao é diferente. Fui contratada por uma empresa indiana para trabalhar com tradução e atendimento ao mercado japonês, o maior cliente da empresa. Dos colegas que trabalham comigo, 6 são japoneses e 4 são indianos. E, eu, brasileira, doida de pedra que fala japonês e mora na Índia. A comunicação entre os funcionários da empresa é quase toda feita em inglês, mas entre os japoneses eu, claro, em japonês. Então, como os colegas indianos não entendem japonês, eles não tinham muita idéia do que estava se passando.
Tudo começou muito bem e meus colegas e chefes indianos sempre me encorajando, dizendo que eu não precisava me preocupar, porque com o tempo e prática, eu iria aprender tudinho. Isso é verdade e, acho que no Brasil, fariam o mesmo discurso. Mas, não sei porque cargas d´água, os japoneses não conseguem agir da mesma forma. No desespero deles, (eles estão sempre desesperados), inventaram que em menos de 2 semanas eu deveria saber os procedimentos de 4 funções diferentes e, isso, claro, sem o treinamento necessário.
Como viram que esta meta deles estava um pouco difícil de ser realizada, começaram a me pressionar exageradamente. – Não acredito que você ainda não sabe isso! – Como? Você ainda não sabe isso?Assim fica difícil! – Imagine só se você passa uma informação errada para o cliente!? Depois ele liga e diz: Pois é…uma tal de Juliana me disse que… – Já imaginou? Você vcai ter pesadelos com isso!
Não estou exagerando. Isto tudo aí foi dito por eles.
Além do mais, como tinha esquecido de ligar para um cliente, um dos colegas japoneses mandou um email para mim, mas também para todo o time, me insultando e dizendo que aquele erro era gravíssimo e que eu deveria ter mais responsabilidade. O pior de tudo: Ele escreveu o email em inglês. Sendo assim, todos podem entender. Japoneses, indianos, etc. Ou seja: Se ele realmente estivesse preocupado com a minha atuação ou com o meu aprendizado, ele teria me mandado um email em japonês e apenas para mim. Ou, poderia ter me chamado para conversar. Mas, ele não fez.
Foram 2 emails destes e eu já estava a ponto de explodir. Isso, claro, em contar os berros dele de – Não, não!Isso não pode!-, no meio da seção. Isso, claro, sem contar que quando chegava o meu horário de saida, sempre tinham alguma desculpa para me fazer ficar mais. Enquanto todos os colegas indianos vão embora na hora que é permitida, porque eu tinha que ficar?
Este rapaz japonês, por exemplo, fica no escritório até altas horas da noite. Eu sei porque os japoneses ficam até altas horas no trabalho. Em 80% dos casos, não é porque eles trabalham muito, mas pporque eles simplesmente não querem voltar para casa. Eles não tem um lar. Tem uma casa, mas não tem um lar. Eles são solitários. Então, se casam com o trabalho e ficam lá, até dar a hora de chegar em casa e a família já estar dormindo. Com este rapaz, é a mesma coisa. Ele não tem família aqui. Mesmo que tivesse, isso não faria diferença, com certeza. Mas, ele é uma pessoa solitária. Por isso, mete a cara no computador e fica lá até altas horas. Porque ele mesmo não se aguenta. Eu perguntei uma vez o que ele costumava azer nos fins de semana, se ele saía ou se ia viajar para conhecer outros lugares em Maharashtra. Ele me respondeu: – “Não. Eu odeio fins de semana. Porque eu não tenho nada o que fazer. Me tranco em casa e não saio de lá“.
E uma pessoa infeliz dessa tem como prazer (sádico, no mínimo), fazer a vida das pessoas são miserável quanto a dela. Mas escolheu a pessoa errada.
Eu estava aguentando tudo calada, mas aquela angústia estava se tornando uma inimiga para mim. Espinhas enormes começaram a pipocar na minha cara, perdi o apetite, tive insônia. E, eu já conheço esta estória. Eu já passei e já vi isso acontecer outras vezes lá no Japão. Por isso, desta vez eu decidi não ficar calada já fiz outras vezes. E, tinha um ótimo argumento desta vez: Eu não estou mais no Japão. Aqui é Índia. O jeito de trabalhar é outro, as leis são outras. A cultura é outra. Quem me contratou foi uma empresa indiana. Portanto, eu devo seguir o que eles me dizem e não o que um bando de japoneses que não têm nem emprego no seu próprio país quer impor.
Sendo assim, encorajada pelo meu esposo, fui ao encontro do chefe-mor, que é chefe dos japoneses, também. O resto da estória, eu conto no próximo post.
Um abraco e ate a proxima!
by Tabibito
Ai, amiga, não aguento de curiosidade. Quero saber o que aconteceu com o mal comido!
Aqui, você sabe, não é muito assim (tanto que alguns lugarem liberam os funcionários mais cedo em dia de jogo do Brasil), mas sempre tem um mala para infernizar a vida da gente. Eu venho aprendendo que ligar o f***-se se faz cada vez mais necessário para manter a saúde mental.
(me conta como se deu a história pelo facebook, vai… rs…)
CurtirCurtir