Povos da Ásia – Tribo Mandi- Bangladesh

Quanto mais conheço o mundo e ouço as estórias das pessoas que nele habitam, mais eu tenho certeza de que nada sei sobre ele.
As estórias das pessoas nos fazem pensar em nós mesmos, em nossa forma de viver e ver a vida, etc. Vamos então, ler o artigo abaixo e conhecer a estória de uma das mulheres da tribo Mandi, em Modhupur, Bangladesh.
orola dalbot with her family
Orola Dalbot, 30 anos, perdeu o pai ainda muito pequena e sua mãe logo se casou novamente com uma rapaz chamado Noten. Orola sempre teve Noten como seu pai. Noten era bonito e cheio de energia, com cabelos negros, cacheados, sempre sorridente. ´´Sempre achei que minha mãe fosse sortuda. Espero ter sorte que nem ela quando chegar minha hora de encontrar um marido´´ , pensava Orola. Porém, ao atingir a puberdade, Orola se deparou com outra realidade a qual ela jamais esperara: ela já tinha um marido. E ele era ninguém mais ninguém menos que Noten, o próprio padastro.
Seu casamento, na verdade, aconteceu quando ela tinha apenas 3 anos de idade, junto com o casamento de sua mãe. Seguindo a tradição matrilínea da tribo Mandi (grupo étnico com cerca de 2.000.000 de pessoas), mãe e filha se casaram com o mesmo homem. “ Quando eu descobri, eu queria fugir! Eu tremia e não conseguia acreditar!“ , conta Orola.
Na tribo Mandi, as mulheres são as donas das propriedades e dos bens. No geral, elas são muito mais independentes que as outras mulheres de Bangladesh. Porém, segundo a tradição, as viúvas que desejam se casar novamente, devem escolher um homem do mesmo clã do seu falecido esposo para preservar a aliança do clã. Geralmente, os homens solteiros disponíveis são muito mais jovens, sendo alguns quase adolescentes.Sendo assim, a viúva deve oferecer uma de suas filhas como uma segunda noiva para assegurar as obrigações de uma esposa, como fazer sexo e ter filhos quando a menina atinge a puberdade. Hoje em dia, é bem raro este costume, mas ele ainda poder ser visto em algumas famílias da tribo.

A família de Orola é composta por sua mãe, Mittamoni, de 51 anos, Noten, seu padastro e esposo de 42, avós e uma grande quantidade de crianças, desde bebês até adolescentes, todos filhos de Noten com suas duas esposas. “Este assunto ainda é um tabu na nossa comunidade. Por muitos anos eu quis conversar com alguém sobre o assunto, porque sempre me senti só. Mas as pessoas pensam que sou mais uma não- cristã e simplesmente não se importam. “, conta Orola.
Os missionários cristãos converteram quase a tribo toda, banindo muitos dos rituais, incluindo o sacrifício de animais.Outro costume que foi abolido foi o casamento por sequestro. Porém, casamentos como o de Orola e sua mãe, continuaram. Simplesmente pelo fato de terem um propósito econômico.
Minha mãe não pode administrar o terreno e a casa sozinha quando meu pai morreu de febre“, explica Orola. Ela tinha vinte e poucos anos. Então, ela resolveu solicitar um novo esposo como substituto do clã de meu pai. O clã, então, ofereceu o único solteiro disponível na época: Noten, de 17 anos, com a condição de que se casaria com Orola.
Uma vez que os casamento Mandi representam a consolidação da riqueza dentre os dois clãs,a segunda e jovem esposa seria uma forma de garantir o nascimento de mais crianças para aumentar o clã e seu poder aquisitivo.
´´Eu era pequena demais para lembrar do casamento. Eu nem sabia que ele tinha acontecido!“, conta Orola. Estes tipos de casamento não são considerados incesto ou abuso infantil na cultura Mandi. “ A última coisa que eu queria era me casar com o Noten. Eu queria escolher o meu próprio marido.“
A situação realmente foi injusta, uma vez que as mulheres da tribo, tradicionalmente, é quem escolhem os parceiros. Além disso, na tribo, são as mulheres quem dão o 1º passo dando a entender que querem algo com o rapaz e, são elas quem pedem o rapaz em casamento! Os bens são herdados pelas mulheres e passam de mãe para filha. E os homens é que se mudam para a casa das esposas, quando se casam. Orola assistiu todas as suas colegas procurarem seus parceiros e sentiu-se tão sozinha que pensou até em suicídio. “Eu me senti aprisionada como um animal“,conta ela.
Mas, a coisa ficou tensa mesmo quando Noten começou a dormir com Orola.
Minha mãe sabia que isso era inevitável. Então, ela me empurrou para a cama do Noten quando eu tinha 15 anos, para terminar de consumar o casamento. Mas, rapidamente, ele começou a me preferir, ao invés da minha mãe.``
Orola conta, também, que um dia, sua mãe colocou algumas ervas na comida dela para que ela tivesse problemas estomacais –“ Enquanto eu estava doente, ela aproveitou a oportunidade para passar a noite com Noten``.
A rivalidade destruiu a relação entre mãe e filha. “ Ela deixou de ser minha mãe. Eu não podia mais contar com ela para me dar conselhos“. Orola,um dia, se revoltou contra sua situação e foi embora sozinha para a capital de Madhupur para fazer compras e assistir filmes Bengali. “Eu tinha um dinheiro da família guardado para comprar jóias. Eu sempre soube que eu nunca teria um homem só meu para comprar presentes para mim. Então, eu mesma comprei para mim!
Mas, suas férias acabaram quando ela descobriu que estava grávida. Hoje, ela é mãe de 3 filhos com Noten: um menino de 14, duas meninas de 7 e 2 anos, respectivamente. Mittamoni, sua mãe, tem um filho de 17 anos com Noten e mais outra filha mais velha. A vida é bem básica e nada fácil. A casa onde vivem não tem eletricidade ou água corrente. Mãe e filha possuem juntas alguns pedaços de terra, onde cultivam abacaxis e bananas.
Durante a entrevista, Mittamoni, mãe de Orola, ouviu tudo sem esboçar muita emoção. – Você não se sente culpada ao ouvir as palavras de sua filha? – pergunta a repórter. – ``Não, eu não. O casamento foi necessário para o sustento da nossa família.E foi uma decisão dos mais velhos do nosso clã, não minha. `` Além disso, Mittamoni diz que sempre protegeu sua filha até que ela tivesse a idade suficiente para ser uma esposa e, desabafa, dizendo que ter que dividir o mesmo marido não foi uma tarefa fácil para ela, também.
E Noten? O que será que ele acha de tudo isso? Ele estava presente na entrevista, mas não quis falar, colocando as mãos para o alto como se dissesse: “ Não me coloca no meio disso!
O caso de Orola não é o único e, por causa disso, mais recentemente, muitas jovens têm fugido para a capital Dhaka para trabalhar como criadas ou esteticistas. “As mulheres Mandi modernas se orgulham por não tolerar nenhum tipo de abuso.Nós não permitimos a violência doméstica ou adultério. Se um homem bate ou trai sua esposa, ele vai ter que arcar com as consequências, geralmente, pagando o ato com algumas cabeças de porcos ou uma quantia de dinheiro. “, conta ela.
E aí? O que você achou da estória de Orola?
matéria extraída do The Guardian e traduzida por Tabibito.
Um abraço e até a próxima!
by Tabibito
  

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Publicado por Banjara Soul

Este blog é para compartilhar um pouco das estórias e memórias que acumulei ao longo de 13 anos no incrível continente chamado Ásia. Hoje, de volta ao Brasil, mas com a Ásia no coração, continuo compartilhando informações do continente com vocês!

2 comentários em “Povos da Ásia – Tribo Mandi- Bangladesh

  1. Que horror e que nojo! Lembra aquele caso da Índia que algumas mulheres se casam com os irmãos do marido pra não haver disputa de terras entre eles. Mas se nessa tribo de Bangladesh as mulheres são independentes, porque precisam se casar novamente e sob essas condições? Não entendi porque a mãe da garota aceitou o casamento junto com sua filha. É uma situação difícil mas acho que eu preferiria permanecer viúva e abrir mão de uma vida conjugal a ter que ver uma filha minha passar por isso.

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